O grupo, que suscitou grandes esperanças em 2014, neste ano mostrou que é capaz de satisfazê-las.
Uma destas esperanças é a implementação de um novo paradigma econômico internacional. O Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e o Arranjo Contingente de Reservas são dois mecanismos que já estão se preparando a serem lançados pelo grupo. O objetivo é a implementação de um sistema financeiro unificado, conforme disse, em dezembro, o primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev.
O Arranjo Contingente de Reservas, especificamente, visa fomentar o valor das moedas nacionais dos países-membros. Em um contexto de crescente interesse de vários países na recusa ao dólar, o intuito não parece impossível. Vale lembrar a experiência do Brasil com a Argentina e Uruguai, além de várias inciativas que abrangem o Egito e a China (que teve projeto correspondente fora do âmbito dos BRICS).
A infraestrutura financeira e econômica dos BRICS não pretende derrubar por completo o modelo econômico existente, representado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial. O intuito é criar uma alternativa, como o faz o Banco Asiático de Investimentos e Infraestrutura (AIIB, na sigla em inglês).
Política
No que toca à política, o principal resultado é o estreitamento dos laços, tanto no âmbito dos cinco membros do grupo, como nos âmbitos bilaterais. Mas também sobrou lugar para política internacional. O país anfitrião não deixou de comentar os assuntos da Ucrânia, Irã, Oriente Médio e Grécia.
A Ucrânia, que pronto fará dois anos no estado de guerra civil, é um assunto especial de Moscou, que declara almejar a paz nesse país seu vizinho. Porém, Kiev acusa Moscou de violência e viola, por sua parte, algumas obrigações, o que levou, no final deste ano, à suspensão da vigência da zona de comércio livre eurasiático em relação à Ucrânia e à possibilidade de ação penal contra Kiev por falta de pagamento da sua dívida à Rússia.
O combate ao Daesh (grupo terrorista também conhecido como "Estado Islâmico") também ficou no centro das atenções da representação russa nos BRICS. O Daesh proclamou, em 2014, o "califado" internacional, o que significa que a ameaça tornou-se séria para o mundo inteiro.
Por isso, a Declaração final adotada na cúpula inclui uma cláusula que trata do terrorismo. O Brasil estava forjando a sua legislação antiterrorista neste ano. Os recentes receios de eventual intromissão de terroristas durante a Olimpíada em 2016 parecem justificar o aumento do rigor das medidas de segurança.
No mês seguinte à cúpula dos BRICS, Israel propôs novo embaixador ao Brasil. Um ano depois de chamar o país latino-americano de "anão diplomático", Tel Aviv nomeou o coordenador do programa de assentamentos, Dani Dayan, para representar Israel em Brasília. O Brasil, que não reconhece as pretensões israelenses nos territórios reclamados pelos palestinos, ainda não reagiu.
Setor social e financeiro
O primeiro evento de escala internacional no âmbito dos BRICS que teve lugar neste ano foi uma conferência sobre a parceria econômica em um mundo multipolar. Foi naquela conferência que uma empresa russa propôs ao Brasil testar a sua tecnologia para combater a crise hídrica. Os representantes de vários países presentes na reunião compartilhavam ideias e apelavam a fomentar o intercâmbio na área da ciência e tecnologia.
Entre os projetos acordados mais tarde no ano que está terminando, vale a pena destacar o acordo sobre a produção de remédios russos no Brasil, pela empresa Biocad, e um leque de acordos entre a Rússia e o estado brasileiro de Paraná (nomeadamente aquele acordo que prevê a criação da infraestrutura para o uso do avião MS-21, projetado pela Rússia) além de projetos que visam desenvolver a área aeroportuária.
A maior implementação do sistema de navegação por satélite Glonass fora da Rússia e a iniciativa da criação de uma Rede Universitária dos BRICS também são êxitos importantes.