A mancha foi encontrada no mar, em uma região turística de praias próximas a Porto Seguro e se estendendo até o Parque Nacional de Abrolhos, reserva composta por cinco ilhas que compõem uma das maiores áreas de biodiversidade de corais de todo o Atlântico, além de ser berço da reprodução e nascimento, todos os anos, de centenas de baleias da espécie jubarte e de tartarugas marinhas.
Ténicos do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e outras autoridades em meio ambiente sobrevoaram na quinta-feira (7) e nesta sexta-feira (8) o litoral sul da Bahia para analisar a mancha no mar perto do Parque Nacional de Abrolhos. Os técnicos acreditam que a mancha é mesmo da lama que veio do Rio Doce.
A presidente do Ibama, Marilene Ramos, disse que a Mineradora Samarco já foi notificada para coletar amostras da água em laboratórios credenciados para analisarem o material.
“Nós vamos continuar monitorando essa evolução”, garantiu Marilene Ramos. “É uma mancha que tem uma turbidez muito elevada ali no entorno da foz do Rio Doce, mas que de forma mais diluída está se estendendo por uma extensão que vai desde a foz do Doce até o Parque de Abrolhos. Em função disso, nós notificamos a Samarco a iniciar imediatamente a coleta de amostras, desde a região ao norte de Abrolhos até a foz do Rio Doce, de forma a caracterizar a qualidade da água ali, e nós podermos ter a certeza e conhecer exatamente a origem desse material.”
A presidente do Ibama explica ainda que o desvio da lama foi provocado pela mudança nos ventos:
“A mancha até a semana passada estava se dispersando em direção ao sul, em relação à foz do Rio Doce, ao longo do litoral do Espírito Santo. Entretanto, nos últimos dias houve a entrada de fortes ventos sul, e a mancha então reverteu, e agora se espraia ao longo do litoral norte do Espírito Santo e o sul da Bahia, chegando à região de Porto Seguro, ainda que de forma diluída, e também ao banco de Abrolhos.”
O presidente do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Cláudio Maretti, informou que até o momento não há prejuízos significativos à flora e à fauna da região. Porém, Maretti explicou que o primeiro impacto imediato na região afetada é a diminuição da produtividade da vegetação marinha e da produtividade dos corais.
“Até agora não vimos nenhuma mortandade expressiva de peixes ou de aves no mar, que a gente possa associar ao desastre”, comentou Maretti. “Até agora não houve diminuição da quantidade de tartarugas marinhas desovando dentro das unidades de conservação, como a Reserva Biológica de Comboios, que fica ao lado de Regência, no município de Linhares, no Espírito Santo. Muito provavelmente nós temos um impacto pela turbidez da diminuição da fotossíntese. Isso nas áreas de parques, de reservas, já é impacto. Também há um impacto muito provável pela simples turbidez na produtividade dos corais, que depende dessa luminosidade, e por isso eles ocorrem nesse tipo de água. O impacto que nós não temos ainda condição de precisar é o desses sedimentos sobre algas calcárias no litoral do Espírito Santo ou nos corais. Esses sedimentos foram importantes causas de mortandade de peixes ao longo do rio.”
O Ministério do Meio Ambiente criou um grupo de trabalho para avaliar os danos ambientais e acompanhar as ações de recuperação dos ecossistemas que foram afetados pelo vazamento da barragem da Mineradora Samarco em Mariana. O resultado dos testes em laboratório que vão confirmar se houve ou não a mudança na rota da lama em direção à Bahia deverá sair em 10 dias.