A anistia "abarca eventos pelos quais se tem perseguido venezuelanos desde 1999 até agora, e não pode favorecer a quem tenha violado os direitos humanos, ou cometido algum crime contra a humanidade", disse à Sputnik o advogado Gonzalo Himiob, da ONG Foro Penal Venezolano e um dos autores da iniciativa.
No entanto, em 30 de dezembro, em medida cautelar devido à investigação de uma série de irregularidades nas eleições parlamentares, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) da Venezuela suspendeu a proclamação de quatro deputados eleitos do estado venezuelano do Amazonas – três da MUD e um do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), governista –, o que deixaria 109 assentos ocupados pela oposição. Com a decisão do STJ, a maioria de dois terços da oposição dependeria de se estabelecer se a Assembleia deveria contar os mesmos 167 ou apenas 163 deputados.
Segundo Himiob, os proponentes da anistia apresentaram aos parlamentares duas opções de formato com o mesmo conteúdo: a elaboração de uma lei de anistia ou um decreto da Assembleia Nacional. Este último mecanismo não requer a promulgação por parte do presidente do país, Nicolas Maduro, nem o controle constitucional por parte do STJ.
Outro redator do projeto, Alfredo Romero, disse em entrevista coletiva no parlamento que a anistia beneficiaria mais de 5.000 pessoas em 41 "situações de relevância nacional", as quais teriam motivado medidas de perseguição por parte do governo, segundo afirma a oposição, alegando casos de processos judiciais, prisões, autoexílios ou expropriações de bens.
De acordo com a ONG cofundada por Himiob, existem 67 presos políticos na Venezuela, sendo a maioria composta por manifestantes detidos em protestos e tumultos que custaram a vida de 43 pessoas e deixaram cerca de 800 feridas em 2014. O líder dos protestos, Leopoldo López, foi condenado a quase 14 anos de prisão por terrorismo e incitação ao crime.
Maduro, com o apoio do PSUV, disse em várias ocasiões que não aceitará a lei de anistia. No início de dezembro, durante seu programa "Em contato com Maduro", o presidente venezuelano foi categórico nesta questão.
"Digo isso como chefe de Estado, não vou aceitar nenhuma lei de anistia porque os direitos humanos foram violados e por isso eu digo e assim me posiciono: eles podem me enviar mil leis, mas os assassinos de um povo devem ser julgados e têm que pagar".
A Assembleia Nacional deve começar nos próximos dias a discussão da lei ou decreto de anistia.