“Em duas semanas vamos saber o que a Argentina está propondo. Não pode ser alguma coisa muito liberal, em razão da escassez de recursos do país, mas, por outro lado, já tem um efeito positivo no mercado financeiro, que trabalha com expectativas, e vimos essas expectativas serem expressas na atitude da agência de classificação de risco J. P. Morgan, quanto ao risco da Argentina frente ao risco do Brasil. Como há esperança de que a Argentina volte a negociar, volte a participar do sistema financeiro, a J. P. Morgan baixou o risco da Argentina. Como há a possibilidade de que a crise política se arraste o ano inteiro, eles [J. P. Morgan] nos colocaram um risco maior, quando na verdade a situação econômica na Argentina é mais séria. Ela tem uma inflação muito maior do que a nossa, tem um déficit muito maior do que o nosso, mas a agência está trabalhando com a expectativa de ela retornar negociando, considerando que Macri tem essa posição liberal e que nós vamos ficar enrolados ainda com a crise política durante algum tempo.”
O professor de Economia Política Internacional, Eduardo Crespo, argentino de San Isidro, Buenos Aires, também acredita na possibilidade de um acordo entre Governo e credores, mas ressalva que, de uma certa forma, o Presidente Mauricio Macri procurará pagar o menos possível:
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Eduardo Crespo explicou como a Argentina chegou a essa situação de débito com os fundos credores:
“A Argentina foi a uma situação de calote, default, no ano de 2002, no final do Governo De La Rua. Houve uma renegociação da dívida, a Argentina começou a pagar regularmente, só que uma parte dos credores não entrou no acordo geral e começou a ser chamada de Fundos Abutres. Esse grupo entrou com reclamação na Justiça dos Estados Unidos, com o Juiz Thomas Griesa, reivindicando o pagamento de 100% do que havia sido acordado inicialmente, antes do calote e antes da renegociação. O juiz e a Corte americana deram razão a eles. Não era tanto dinheiro assim, e até hoje não é, só que existia uma cláusula que dizia que, se não fosse possível pagar os 100%, iniciava-se a negociação mas não se podia discriminar credores – pagar a uns 100% e a outros 20%. Se os Fundos Abutres recebessem 100%, corria-se o risco de ativar a reclamação de todos os outros que tinham cobrado menos. O pagamento teria que ser igualitário. Era a Cláusula RUFO (rights-upon-future-offers), que deixou de ser válida no início do ano de 2015. Agora se forem pagos 100%, 50%, qualquer que seja a porcentagem, não se abre a possibilidade de os outros reclamarem.”
Além de falar sobre o acordo da Argentina com os credores, o Professor Fernando Almeida também falou das relações dos governos brasileiro e argentino, e também do relacionamento dos países no âmbito do Mercosul: