Desde o segundo semestre do ano passado, o governo chinês tem promovido uma série de intervenções no câmbio, desvalorizando o yuan e, com isso, provocando uma onda de desvalorizações nas moedas de países emergentes, acirrando assim uma guerra de exportações dentro de um cenário ainda de debilidade das economias no mundo.
Desde o final de 2015 e início deste ano, também as bolsas chinesas têm experimentado grandes quedas a reboque da divulgação de dados que mostram redução na atividade industrial e de serviços. No início do ano, para tentar frear as baixas, o governo lançou mão do circuit braker, sistema que interrompe os pregões automaticamente quando o recuo dos índices alcança os 7%. A medida, adotada por duas vezes este mês, teve efeito contrário: não tranquilizou os investidores, as quedas se repetiram, arrastando as bolsas em todo o mundo.
Na semana passada, a autoridade monetária amenizou a desvalorização do yuan e suspendeu o emprego do circuit breaker, o que ajudou a recuperar um pouco o valor das ações.
Para Otaviano Canuto – cuja diretoria acompanha Brasil, Cabo Verde, República Dominicana, Equador, Guiana, Haiti, Nicarágua, Panamá, Suriname, Timor Leste e Trinidad e Tobago —, apesar das turbulências, a China continuará balizando o comércio mundial.
“O mundo deve acompanhar atentamente a dinâmica das importações chinesas. Além disso, é importante notar que a economia vem mudando para outro padrão de crescimento. As expansões de dois dígitos verificadas há décadas serão impossíveis de se repetir, isso porque a ênfase já não está tanto no estímulo à indústria, mas agora também recai sobre o setor de serviços”, diz o diretor do FMI.
Segundo Canuto, é preciso, porém, que se separe o joio do trigo.
“A turbulência financeira dos mercados chineses exagera o que está acontecendo na economia. Além disso, é preciso observar que o processo de aprendizado passa também pelo próprio Governo, que está atravessando um rio, pedra sobre pedra, e fazendo correções. Em agosto do ano passado, por exemplo, as intervenções feitas nas bolsas ficaram longe da perfeição. As medidas estão sendo corrigidas. O novo ritmo de crescimento ainda não está definido. Ele pode não avançar tanto quanto antes, mas certamente é certo que não estará à beira do precipício.”
Na América Latina, um país parece estar imune às turbulências dos mercados financeiros chineses. O Governo do presidente Rafael Correa anunciou que vai fechar este mês um acordo de financiamento no valor de US$ 3 bilhões com a China, para reforçar o caixa do orçamento deste ano, projetado em US$ 6 bilhões. Parte dos recursos será destinada a diversos programas, como o Alianza País e às novas emendas constitucionais para reforço à cidadania. No campo de energia, Correa também anunciou que, para minimizar as fortes quedas na cotação do petróleo, o Equador vai, pela primeira vez, passar a exportar energia para a Colômbia.