Manhanelli diz que as declarações das diplomacias brasileira e argentina confirmam a tese. Reunidos em Buenos Aires, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e a ministra argentina Susana Malcorra anunciaram que os dois países estão plenamente de acordo, que as discussões entre Legislativo e Executivo na Venezuela são uma questão interna em andamento a qual não permite qualquer tipo de ingerência externa.
“Estamos seguros de que, assim como aconteceu nas eleições legislativas (dezembro), a vontade do povo será acatada por todos e pelo Governo”, disse Vieira.
O coordenador da ABCOP diz que, neste momento, a Argentina tem muito mais interesse estratégico de se aproximar do Brasil e do Mercosul – até para se reerguer economicamente –, do que bancar uma política de confronto com o Governo do presidente Nicolás Maduro.
“O Brasil é o bastião de ouro do Mercosul, somos, de fato, o líder regional. Podem falar mal do país, da crise, mas ninguém pode questionar que somos o grande fornecedor de recursos para as regiões de fronteira.”
Manhanelli lembra que a nova postura diplomática da Argentina com a Venezuela deve ser vista também pelo fato de que a chanceler Susana Malcorra teve uma larga experiência ocupando cargos na secretaria-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) de onde herdou a postura de maior habilidade diplomática. O consultor observa ainda que o grau de politização na Argentina é um dos mais elevados na América Latina.
“Até por questões de linguística, cultural e de ideais comuns de independência, os hispânicos tendem a ser bastante integrados na América Latina. Divergências à parte, desde as crises econômicas sofridas nas últimas décadas, os argentinos têm a consciência que dependem economicamente dos seus vizinhos. Dentro dessa visão, não faz sentido que o convívio com a Venezuela, que fica longe, atrapalhe as relações da Argentina com o Brasil.”
Outro especialista que concorda com a mudança de enfoque da Argentina com a Venezuela é o presidente da Sociedade Brasileira de Direito Internacional, Antonio Celso Alves Pereira, também professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Rio de Janeiro (Uerj). Pereira diz que ainda é cedo para se chegar a uma conclusão, mas que a mudança de relacionamento fortaleceria o Mercosul, bloco que, em sua opinião, precisa destravar as negociações com outras parcerias importantes, como com a União Europeia (UE), que se arrastam há vários anos.
“Estamos perdendo mercado em um momento em que o comércio internacional atravessa um período difícil, a OMC (Organização Mundial do Comércio) continua sem conseguir destravar a Rodada Doha, de liberalização das trocas, e surgem novos blocos competidores, como o Tratado de Livre Comércio Trans-Pacífico (TTP). Brasil e Argentina são as maiores potências econômicas do Mercosul, têm economias complementares, e por isso mesmo devem se entender, para que o próprio Mercosul seja um instrumento de promoção e liberalização econômica.”