"Detiveram a Milagro porque ela pedia uma audiência com o governador Morales desde antes da sua assunção, em 10 de dezembro [de 2015], para tratar do futuro das cooperativas da organização Tupac Amaru. Visto que ele não contestou, voltamos a pedir a entrevista depois da sua posse, mas tampouco respodneu. As cooperativas, em assambleia, decidiram ocupar pacificamente a praça Belgrano, frente à Casa do Governo, onde passamos de 32 dias e onde passamos o Natal e o Ano Novo", explica Raúl Noro.
"Como Morales não pôde fazer nada, inventou uma ação contra Milagro", frisou o esposo da ativista indígena.
Membro da União Cívica Radical, Gerardo Morales foi eleito governador da província de Jujuy (Norte do país) em outubro do ano passado, substituindo o governo peronista que tinha estado no poder durante 17 anos. Morales é apoiado pelo presidente argentino, Mauricio Macri, da aliança Cambiemos.
A organização Túpac Amaru foi criada em 2001, depois da derrubada do então presidente Fernando de la Rúa. Milagro era secretária gremial da Associação de Trabalhadores de Estado (ATE), começando a organizar os desempregados em Jujuy. Logo a organização recebeu o nome de Túpac Amaru, em homenagem ao inca José Gabriel Condocrangui (1737-1781), protagonista de uma rebelião contra os conquistadores espanhóis.
No início do governo Néstor Kirchner, em meados da década dos 2000, a organização Túpac Amaru começou um programa de emergência habitacional.
"Milagro, que parece um cíclone desolador, porque nada a detém, meteu-se nesse plano. Hoje em dia, já temos 1.000 casas, fizemos um seguro de saúde para os desempregados (porque já têm emprego), temos ecógrafos, laboratórios de análises clínicas, radiógrafos, odontologia, internação e serviços fúnebres gratuitos, dois edifíciso escolares com escola primária, secundária e três carreiras terciárias, um centro de atenção aos descapacitados de famílias sem recursos, piscinas, um sistema de contenção social para combatr a droga entre os adolescentes, uma fábrica têxtil, uma de tijolos e uma metalúrgica. Isso é Milagro Sala", conta o marido.
A obra da ativista vem provavelmente da sua infância. Adotada por uma família de classe média que a encontrara abandonada em uma caixa de sapatos frente a um hospital, ela fugiu de casa e viveu na rua dois anos até encontrar um emprego na administração pública. Foi eleita deputada provincial em 2013, renunciando a este cargo em 2015, para ser eleita ao parlamento do Mercosul (Parlasul) em outubro.
A sua detenção provocou uma onda de protestos que ainda acontecem em várias cidades da Argentina.