Segundo a parlamentar e seus advogados, um grande aparato policial foi montado para prendê-la e levá-la ao local em que permanece encarcerada. No domingo, 17, os advogados de Milagro Sala entraram com pedido de habeas corpus para que a parlamentar fosse libertada.
Membro da Organização Social Tupac Amaru, Milagro Amalia Ángela Sala foi eleita deputada em 10 de dezembro de 2013 pela Frente Unidos e Organizados de Jujuy (sua cidade natal), mas renunciou ao mandato em dezembro de 2015 para se dedicar ao seu novo cargo eletivo, o de deputada do Parlasul, obtido através da coligação partidária Frente para a Vitória, de orientação peronista e kirchnerista.
Como integrante da Organização Social Tupac Amaru, Milagro Sala participa ativamente de campanhas pelo reconhecimento dos direitos dos indígenas e pela construção de moradias para a população economicamente menos favorecida. A Tupac Amaru atua em 23 províncias e tem mais de 4 mil filiados em todo o país.
Em 2014, juntamente com outros dirigentes de organizações indígenas sul-americanas, Milagro Sala foi recebida no Vaticano pelo Papa Francisco. Naquela oportunidade o Sumo Pontífice ratificou seu apoio à defesa dos direitos dos povos originais das Américas.
Sobre a detenção de Milagro Sala, Sputnik Brasil conversou com a jornalista Mariana Serafini, editora de políticas latino-americanas do Portal Vermelho. Para a jornalista, a prisão da parlamentar é arbitrária e injusta, pois, em sua opinião, não há fundamentos para que suas reivindicações, de ordem social, sejam consideradas como instigadoras à realização de atos extremistas.
“Mas o que temos visto na Argentina, desde que o novo Presidente Mauricio Macri tomou posse, é uma onda absurda de repressão aos movimentos sociais”, diz Serafini. “Depois de 12 anos de kirchnerismo, os movimentos sociais voltaram a ser reprimidos com balas de borracha, cassetetes, amplo aparato social, coisas que não aconteciam há muito tempo. O que aconteceu com a organização que a Milagro representa é o que tem acontecido com diversas outras organizações na Argentina: estão sendo reprimidas.”
A jornalista especializada em políticas latino-americanas conta ainda que Milagro Sala “foi presa dentro de casa, no sábado, numa operação com 40 policiais”, e que a organização Tupac Amaru apenas defende os direitos dos povos indígenas, demarcações de terras, questões parecidas com as do Brasil.
“Não vejo fundamento para a detenção de Milagro Sala. Temos acompanhado outros casos de situações bastante extremas que aconteceram recentemente na Argentina, como a perseguição política a Victor Hugo Morales, que é um dos jornalistas mais renomados do país. Ele foi demitido depois de 30 anos trabalhando na mesma rádio, e acredita que foi uma perseguição política. O que aconteceu com Milagro me parece algo do mesmo perfil, porque ela faz parte da Frente para a Vitória, uma coalizão de partidos kirchneristas. A organização Tupac Amaru tem como referência, além do grande líder que lhe deu nome [Tupac Amaru, descendente de imperadores incas, liderou uma rebelião indígena contra os colonizadores espanhóis em 1780-81], também as figuras de Evita Perón e Ché Guevara, e não é uma organização que promove atos agressivos ou qualquer coisa nesse sentido.”