Um dos autores da pesquisa cujos resultados foram publicados na quarta-feira (20) na revista Astronomical Journal tem origem russa e chama-se Konstantin Batygin. O co-autor da pesquisa é Michael Brown.
A Sputnik procurou o professor adjunto de Planetologia da Universidade Tecnológica da Califórnia (EUA), que explicou os pormenores.
Além disso, ele frisou que é muito cedo para falar em contatos com civilizações extraterrestres "antes de compreendermos perfeitamente as origens da vida na Terra", recusando-se a comentar a possibilidade de o "Planeta X" ser habitado.
A seguir, os trechos mais importantes da entrevista.
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Sputnik: Se eu compreendo bem, você apresentou modelos que permitem supor que o comportamento dos corpos celestes além da órbita de Netuno — no assim chamado Cinturão de Kuiper — dificilmente pode ser uma coincidência e que a explicação mais provável seria a influência de um planeta desconhecido.
Konstantin Batygin: Isso mesmo. Ao examinar as órbitas no Cinturão de Kuiper mais distantes do Sistema Solar, vemos que todas elas "olham" mais ou menos na mesma direção, estão todas agrupadas em um espaço físico. Você já disse que é uma pequena probabilidade — é cerca de 0,007% — de que isso seja realmente uma coincidência. Mas sendo esta probabilidade tão sutil, nós devemos procurar outra resposta dinâmica sobre a imagem atual do nosso Sistema Solar. Nós acreditamos que estes dados são a primeira evidência material real de que o catálogo planetário do Sistema Solar não está terminado, de que para lá da órbita de Netuno existe um planeta massivo adicional que não vemos.
S.: E como resulta que esse planeta pode ter ficado tão longe do Sol?
K.B.: É que o processo de formação de planetas não é 100% eficiente. Vários protoplanetas que se formam junto com outros — do tamanho mais ou menos comparável ao de Urano, Netuno e dos núcleos de Júpiter e Saturno — às vezes fazem um "salto" gravitacional para fora do Sistema Solar para depois dissipar-se. Um planeta que "tenha habitado" desde o início na mesma região que Urano e Netuno pode ser "deslocado" dessa região para passar a uma órbita mais ampla e elíptica.
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S.: O seu modelo atual não permite dizer com precisão qual pode ser o período orbital do Nono planeta, onde ele pode estar situado?
K.B.: O nosso modelo pode predizer a órbita. Não pode predizer qual o lugar na órbita que o planeta ocupa em um momento determinado. Mas nós consideramos que conhecemos a órbita bastante bem. Esta órbita tem, com a maior probabilidade, um período orbital de 10-20 mil anos e a elíptica de 60%.
Isso significa que, quando o Nono planeta passa mais perto do Sol, está a umas 200-250 unidades astronômicas do astro, o que é 250 vezes mais longe do que a distância que separa a Terra e o Sol. O ponto mais longínquo onde o planeta passa está a 1.000 ou 1.200 unidades astronômicas.
S.: O que podemos julgar da composição deste planeta?
K.B.: Da composição deste planeta só podemos dizer que, geralmente, os planetas não são formados em órbitas tão grandes, e só podemos sugerir a hipótese de que tenha se formado juntamente com Urano e Netuno. Por isso, teria mais ou menos a mesma composição química.
S.: Sabendo a órbita aproximada do planeta, podemos vê-lo com um telescópio moderno?
K.B.: Sim, claro. Há dois telescópios ideais para isso — o japonês Subaru e o telescópio Keck. Ambos estão situados no Havaí. Nós acreditamos que, se sobrar tempo para o trabalho, o Nono planeta pode ser descoberto em um par de anos.
S.: Isso seria repetir o caminho de Netuno, que primeiro foi descoberto "no papel" e só depois a sua existência foi confirmada tecnicamente?
K.B.: Isso mesmo. A única diferença entre Netuno e a situação em que estamos é que, no momento em que Urbain Levervier fazia os seus cálculos [sobre Netuno], ele já tinha os dados sobre toda a órbita de Urano. Ele, digamos, tinha um filme do Sistema Solar, e nós só temos uma foto. Nós não temos dados sobre as órbitas completas dos corpos celestes do Cinturão de Kuiper. Por isso, só podemos predizer a órbita e não podemos predizer o lugar da órita em que estará o Nono planeta.