O crescimento mais moderado da China, a fraca retomada da economia mundial, após a crise de 2008, entre outros fatores, têm depreciado a cotação das matérias-primas e induzido à desvalorização cambial nesses países. Depois de o real oscilar durante os anos recentes na faixa dos 2,50 por dólar, a moeda americana já é cotada acima dos R$ 4,10. O dólar – que passou de 2000 a 2014 na faixa entre 28 e 35 rublos – é negociado agora na casa dos 80. O mesmo acontece em outros países, como Chile e Venezuela.
Para Robson Gonçalves, economista da FGV, a taxa de câmbio é um preço determinado por oferta e demanda.
“Toda vez que se tenta interferir nessa cotação, acaba se criando ganhos de um lado e perdas de outro. A autoridade monetária só deve intervir para evitar grandes oscilações e movimentos especulativos”, diz Gonçalves, para quem a depreciação das moedas desses países é um mecanismo de defesa natural do câmbio. “Se o dólar for caminhando para R$ 5 no Brasil ou 90 rublos na Rússia, os bancos centrais não devem interferir.”
A desvalorização das commodities tem sido expressiva. O barril de petróleo, que era cotado na faixa de US$ 96 em setembro de 2014, chegou esta semana a US$ 23. Em relação às commodities agrícolas, de janeiro a novembro do ano passado o Brasil exportou 7,8% mais em volume, mas com queda de 45,6% no valor dos embarques. Já a soja cresceu 19,2% em volume, e teve cotação 9,6% menor.
Segundo o economista da FGV, nem cotações de barril de petróleo acima de US$ 100 ou abaixo de US$ 30 são viáveis e desejáveis. Para ele, a queda nas cotações, de forma geral, é um movimento natural de descenso após anos de forte valorização e da demanda puxada durante anos pela China, que exibia taxas de crescimento de dois dígitos.
Para Tatiana Pinheiro, economista do Santander, o quadro atual de commodities mais baratas e depreciação das moedas dos países emergentes deve continuar este ano, com menos força, porém, no caso do Brasil. Segundo ela, isso é resultado do fortalecimento da economia americana, da elevação dos juros nos EUA e do menor crescimento da China.
“No ano passado, a valorização do dólar sobre o real foi de 40% em termos nominais e de 30% em termos reais. Se tivermos novas depreciações este ano, elas serão mais brandas”, diz Tatiana Pinheiro, para quem o Banco Central brasileiro tem adotado, desde 2015, uma política correta de só interferir no câmbio para evitar oscilações muito bruscas.
A economista do Santander prevê que o movimento de baixa das commodities vai continuar este ano, afetando países exportadores como Brasil, Chile, Venezuela, Peru, Rússia, Austrália, Canadá e Nova Zelândia.
“No nosso caso, isso vai se refletir também no desempenho das empresas. Cerca de 60% das nossas exportações são de commodities, e na Bolsa de Valores quase 50% das ações negociadas pertencem a companhias desse ramo."