Tão logo a medida foi anunciada e surgiram as primeiras críticas, o Governo correu para garantir que o fim dos descontos não vai incidir sobre as cerca de dois milhões de famílias que ainda se encontram abaixo da linha de pobreza no país. Economistas calculam que a retirada dos subsídios poderá propiciar uma economia de até US$ 2,5 bilhões por ano aos cofres do Governo. Esses descontos, ainda de acordo com diversas consultorias, ajudará a reduzir o déficit fiscal dos 7,1% do Produto Interno Bruto (PIB) observados em 2015 para 0,3% em 2019, último ano do mandato de Macri.
Opositores do fim da ajuda alegam que esse é o primeiro passo da nova administração para desmonte da rede social de proteção criada nos 13 anos do kirchnerismo, responsável pela criação de vários programas como o Bolsa Universal por Filho, a moratória das pensões, que incorporou 2,5 milhões de pessoas ao sistema previdenciário, o “Mirar para Cuidar” (de vigilância sobre reajustes no comércio) e o programa popular de cesta básica, que mantinha preços congelados de mais de 250 itens em 1.115 supermercados nas 50 maiores cidades argentinas.
O governo da presidente Cristina Kirchner atribuía a essas iniciativas a melhora dos números da redução da pobreza no país, segundo organismos internacionais. A Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) apontava que o índice de pobreza na Argentina estava em 11,3% da população em 2010, ficando em segundo lugar no continente, só abaixo dos 10,7% do Uruguai.
A retirada do subsídio nas contas de energia vai ter um impacto generalizado e não só sobre a parcela mais pobre da população, segundo o professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, em São Paulo, José Maria de Souza Jr.
“O (presidente) Macri está sendo bastante fiel às plataformas eleitorais dele, e essa retirada é mais um desses elementos. Uma série de impostos sobre exportação e importação estão sendo retirados. São medidas que aquecem a atividade econômica, o comércio exterior, desoneram o Estado e diminuem a intervenção estatal”, diz.
Souza Jr. observa, no entanto, que tem que haver certa prudência nas medidas, pois o custo que a sociedade argentina vai pagar pode ser até maior.
“A dúvida é como o governo e outros atores de mercado vão equacionar essas mudanças. O aumento da tarifa pode ser compensado por um mecanismo de compensação com outros programas sociais.”
O professor das Faculdades Rio Branco diz que o modelo kirchnerista, marcado por bastante intervenção no mercado e fortes subsídios, não estava funcionando. “Com uma inflação de 30% ao ano, a economia está com problema”, diz Souza Jr.. Para ele, contudo, ainda é preciso um certo tempo para ver como as mudanças que serão anunciadas na Argentina vão se refletir não só em relação ao Brasil, como também em relação ao Mercosul e a outros países.