A forte redução dos preços do barril, que chegaram a ser comercializados a US$ 25 em janeiro, contra média de US$ 100 há um ano, vem impactando as economias de grandes produtores como Venezuela, Rússia e Irã. Esses países vêm pressionando a OPEP a reduzir a produção atual de 30 milhões de barris/dia, mas têm encontrado resistência devido à crescente expansão do “shale oil” e do “shale gas” (produção de óleo e gás por fração de rochas subterrâneas) nos Estados Unidos.
O ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Haroldo Lima observa que o mercado de petróleo era controlado nos últimos 30 anos pela OPEP dentro das leis de oferta e procura, mas que, desde a expansão da produção americana a partir do óleo e do gás de xisto, essa relação mudou.
“A indústria do petróleo tem 150 anos e os preços sempre oscilaram na base da oferta e da demanda. Quando o preço do petróleo chegou a US$ 144 o barril, e se manteve acima de US$ 100, isso estimulou o surgimento do petróleo mais caro. Dezenas de empresas americanas se organizaram e passaram a produzir esse petróleo, que é extraído a US$ 50 e US$ 55 o barril. Essa produção começou a inundar o mercado americano, grande importador. A OPEP viu que estava perdendo mercado e decidiu não reduzir a produção. Os americanos esperavam um corte na oferta, e isso não ocorreu.”
Além de questões de estratégia comercial – com os árabes não querendo perder mercado para os americanos –, Lima aponta ainda outros componentes de interesse nessa queda de braço. Segundo ele, se com os preços atuais os produtores americanos não têm condições de concorrer – cerca de 50 já teriam saído do mercado –, por outro os preços excessivamente baixos prejudicam diretamente a economia de grandes produtores não alinhados com os Estados Unidos, como Rússia, Irã e Venezuela.
O ex-diretor da ANP vê, contudo, mudanças no horizonte.
“Acho que isso está chegando a um ponto de inflexão. Já há notícias de que iniciativas como as visitas do ministro venezuelano ecoam e que dentro da própria OPEP existe um movimento pró recuperação de preços. A própria Aramco – empresa da Arábia Saudita 100% estatal – está em processo de abrir capital, o que é muito significativo em termos de Arábia Saudita.”
Lima lembra ainda outros inconvenientes. O barril abaixo de US$ 50 desestimula investimento em fontes alternativas, que só são viáveis se o petróleo for caro. O especialista diz que mesmo para quem defende o meio ambiente a luta hoje é pelo aumento do preço do petróleo.
Quanto aos investimentos feitos pela Petrobras no pré-sal, Lima observa que eles só são economicamente viáveis quando a cotação do barril se estabiliza ao redor dos US$ 40.
“Esse é o patamar para produção dos projetos existentes. Outra coisa são os novos projetos, que exigem grandes investimentos e que não se viabilizam nesse patamar de baixa.”