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Produtores de petróleo pressionam OPEP a reduzir oferta

© flickr.com / Sergio RussoBarris de petróleo
Barris de petróleo - Sputnik Brasil
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Grandes produtores de petróleo, como Venezuela e Rússia, entre outros, estão pressionando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) a reduzir a oferta como forma de recuperar os preços do barril, que eram comercializados na faixa dos US$ 100 no início do ano passado e que chegaram a US$ 24,33 em janeiro deste ano.

A Venezuela enviou negociadores à Arábia Saudita, Catar, Irã, Iraque e Rússia para tentar negociar um corte na produção, principalmente junto à Arábia, responsável pela extração de 10 milhões de barris/dia dos 29,6 milhões do total ofertado pela OPEP. Embora Rússia (10 milhões barris/dia) e Venezuela (2,5 milhões barris/dia) estejam entre os maiores produtores (a Rússia não faz parte da OPEP), estas são duas economias que mais vêm sendo impactadas pelos preços reduzidos. A própria Rússia tem negociado diretamente com a Arábia Saudita e, nos bastidores, comenta-se que só a notícia de um possível corte de 5% na produção da organização teria sido responsável pelo retorno do preço do barril para pouco acima do patamar de US$ 30.

Plataforma de petróleo da Petrobras. - Sputnik Brasil
Venezuela pressiona OPEP para aumentar preços do petróleo

Apesar da leve recuperação, boa parte dos especialistas não acredita no retorno dos preços à faixa de US$ 50 ainda este ano. Relatório do Banco Goldman Sachs aponta que um acordo desta natureza necessitaria de um consenso entre todos os produtores, hipótese que também é descartada pelo Banco Mundial (Bird). O fim do embargo imposto pelos Estados Unidos e pela União Europeia ao Irã – por conta do programa nuclear – deve contribuir para que a commodity não se valorize tão cedo. Grande produtor de óleo, o Irã já anunciou ter planos de colocar no mercado mais 160 mil barris diários.

David Zylbersztajn, primeiro diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e professor do Instituto de Energia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, também está convencido de que a tese da redução da produção mundial de petróleo não prosperará. Em entrevista à Sputnik Brasil, ele afirmou que “os interesses de cada país produtor de petróleo vão acabar prevalecendo neste momento complexo da vida econômica mundial”. Ele disse ainda que “em curto e médio prazos” não vê possibilidade de os preços do barril de petróleo se recuperarem e chegarem sequer aos US$ 50. Segundo o especialista, esta é a cifra máxima que o barril poderá atingir. 

Sobre as oscilações do sobe e desce dos preços do petróleo, Zylbersztajn afirma que, na realidade, estamos vendo uma tendência.

“Assim como o petróleo subiu lentamente e ficou num patamar bastante alto, ele teve uma queda – claro, foi uma queda rápida –, mas ele não oscilou de subir muito ou descer muito. Ele teve uma progressão muito uniforme ao longo do tempo. Ou seja, assim como subiu e ficou estável, agora caiu rapidamente, No período de um ano, caiu bastante, pelo menos 1/3, ou menos até, do que tinha como valor no passado. Mas o que vemos agora é uma situação de estabilidade, num primeiro momento em torno de US$ 30, e possivelmente dentro de pouco tempo para um pouco mais. Acho muito pouco plausível a hipótese de ele voltar aos patamares anteriores ou mesmo próximo a eles. Eu diria que esse barril não estará muito longe de alguma coisa em torno de US$ 50, US$ 60, no médio e no longo prazo, se chegar até lá. A não ser que tenhamos uma ruptura qualquer em termos geopolíticos, um problema maior no Oriente Médio que impeça o fluxo normal de petróleo. Mas acho que vamos chegar a um patamar um pouco acima do que temos hoje.”

O ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Haroldo Lima observa que o mercado de petróleo era controlado nos últimos 30 anos pela OPEP dentro das leis de oferta e procura, mas que, desde a expansão da produção americana a partir do óleo e do gás de xisto (os chamados “oil” e “shale” gás) essa relação mudou.

Segundo Lima, a indústria do petróleo tem 150 anos e os preços sempre oscilaram na base da oferta e da demanda. Quando o preço do petróleo chegou a US$ 144 o barril, e se manteve acima de US$ 100, isso estimulou o surgimento do petróleo produzido a partir da fragmentação de rochas do subsolo através da injeção de água e gás sob pressão.

“Dezenas de empresas americanas se organizaram e passaram a produzir esse petróleo, que é extraído a US$ 50 e US$ 55 o barril. Essa produção começou a inundar o mercado americano, que era grande importador. A OPEP viu que estava perdendo mercado e decidiu não reduzir a produção. Os americanos esperavam um corte na oferta, e isso não ocorreu”, diz Lima.

Além de questões de estratégia comercial – com os árabes não querendo perder mercado para os americanos –, Lima aponta ainda outros componentes de interesse nessa queda de braço. Segundo ele, se com os preços atuais os produtores americanos não têm condições de concorrer – cerca de 50 já teriam saído do mercado nos EUA –, por outro os preços excessivamente baixos prejudicam diretamente a economia de grandes produtores não alinhados com os Estados Unidos, como Rússia, Irã e Venezuela.

O ex-diretor da ANP vê, contudo, mudanças no horizonte.

“Acho que isso está chegando a um ponto de inflexão. Já há notícias de que iniciativas como as visitas do ministro venezuelano ecoam e que dentro da própria OPEP existe um movimento pró recuperação de preços. A própria Aramco – empresa da Arábia Saudita 100% estatal – está em processo de abrir capital, o que é muito significativo em termos de Arábia Saudita.”

Lima lembra ainda outros inconvenientes: o barril abaixo de US$ 50 desestimula investimento em fontes alternativas, que só são viáveis se o petróleo for caro. O especialista diz que mesmo para quem defende o meio ambiente a luta hoje é pelo aumento do preço do petróleo.

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