A Mangueira do Amanhã reúne crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos. O projeto foi fundado pela cantora Alcione, uma das principais representantes da Música Popular Brasileira, e que hoje é presidente de honra do grupo.
A agremiação traz para a Sapucaí este ano o enredo: “Era uma vez… A Mangueira do Amanhã vai contar para vocês”, do carnavalesco Clebson Prates, que fala sobre as brincadeiras e aventura de ser criança.
A escola de samba mirim levará 21 alas e cerca de 1.800 crianças e adolescentes para a avenida. As crianças refugiadas farão parte da ala “Pluft, o fantasminha”, que é uma personagem de uma peça infantil da dramaturga brasileira Maria Clara Machado.
Segundo Vivianne Reis, ainda há uma resistência muito grande da sociedade brasileira em agregar os refugiados. Nesse âmbito, esse acolhimento através do Carnaval será um passo significativo. “Existe uma grande resistência da nossa sociedade, mesmo se tratando de crianças, que elas estejam aqui. A gente poder conciliar isso junto com as crianças brasileiras é muito importante, porque a criança também ensina o adulto. Queremos que a criança brasileira entenda quem é essa criança que veio buscar refúgio aqui. Primeiro, porque é um ser humano como ela. É uma criança que só precisa continuar a viva. É só isso que ela está pedindo. Uma chance de recomeçar aqui no nosso país.”
A diretora da IKMR explicou que a criança tem mais facilidade de se ver na outra, ao contrário dos adultos. Por isso, é importante fazer essas introduções, como agora no Carnaval, reunindo crianças refugiadas com as brasileiras.
Para os familiares das crianças que vão ao desfile o sentimento é de alegria. “Na maior parte dos depoimentos que recebemos os pais relatam que: se o meu filho é capaz de sorrir, se ele está bem, isso me dá muita força para continuar. Essa é a nossa proposta. Cuidar desse corpo emocional e mental que a criança tem, ajudar nesse processo de regeneração.”
A diretora da organização “Eu Conheço Meus Direitos” explica que essas crianças foram expulsas de seus países e passaram por diversos lugares, nos quais as pessoas negaram a elas a humanidade. “Se você é tratada dessa forma por algum tempo, você passa quase a se sentir um animal. Então, se existem atividades, ou essa preocupação de ajudar nessa ferida que não é visível, as mães apoiam muito. A gente, de forma direta, cuida das crianças. Mas isso muda toda a dinâmica da integração da família, e atinge os pais também.”
Entre as principais dificuldades encontradas pelos refugiados no Brasil, Vivianne Reis destaca a falta de oportunidades de trabalho. “Por causa da crise, eles não conseguem emprego, e é o que eles mais querem. Eles não querem assistência ou doação, eles querem poder assumir essa família que está aqui. Ainda que seja para ganhar um salário mínimo e morar na favela. Não importa. Eles querem poder ter essa autonomia. Chegam muitas mulheres sozinhas aqui, sem os maridos, grávidas e com crianças pequenas. E encontram ainda a barreira da língua e dos costumes, além da resistência.”
Apesar do Brasil ser considerado como um povo acolhedor, a fundadora da ONG “Eu Conheço Meus Direitos” diz que a história não é bem assim. Ela destaca que a sociedade precisa ter mais tolerância e compaixão pelos refugiados. “Elas não escolhem para onde vão…Elas vão contribuir com a nossa sociedade. Tem uma grande diversidade cultural, com pessoas fortes e guerreiras. A gente precisa entender que isso podia acontecer com a gente. Nós tivemos uma Ditadura recente, onde milhares de brasileiros estiveram lá fora como refugiados e não quiseram voltar para nosso país, não se sentiram mais seguros para voltar. Precisamos ter essa humanidade.”
Vivianne finalizou dizendo que, apesar da crise e dos problemas que o Brasil enfrenta, “nós não estamos tão destruídos assim para não conseguir ajudar esse outro que só está pedindo para continuar vivo. Temos problemas com nossas crianças, com nossos adultos, passamos por crise, mas estamos vivos o suficiente para poder socorrer esse outro. Vamos abrir o coração.”