Apesar da redução, a fiscalização da Polícia Rodoviária contabilizou 1.249 motoristas dirigindo embriagados, dos quais 153 foram presos, foram lavradas 69.448 multas por excesso de velocidade e mais de seis mil por ultrapassagens proibidas. No período, foram fiscalizados 151 mil veículos, do que resultou em 30 mil multas diversas e 1.500 apreensões.
No Estado do Rio de Janeiro, as reduções foram ainda mais significativas, embora o número de óbitos tenha crescido em relação a 2015. Entre a sexta-feira, 5, e a quarta-feira, 10, foram notificados 137 acidentes, com 138 feridos e 10 mortos. No Carnaval de 2015, o total de colisões foi de 293, com 142 feridos e nove mortos.
As reduções de acidentes, mortos e feridos durante o Carnaval deste ano foram comemoradas por vários especialistas em segurança e educação no trânsito. A fundadora do Instituto Paz no Trânsito (Iptran) – ONG sediada em Curitiba com abrangência nacional –, Christiane Yared, diz que os números são animadores, mas o Brasil ainda tem um longo caminho de conscientização para reduzir a violência do trânsito no país.
“Esses números nos fazem crer que é possível esta mudança. Eu sempre digo que o país que a gente quer começa em cada um de nós, e quando entendemos isso começamos a mudar o comportamento. Infelizmente essas tragédias acabam acontecendo por imprudência, imperícia. As pessoas ainda têm o hábito de beber e dirigir, uma cultura do país que temos que abolir”, diz Christiane, ressaltando que o Brasil tem boas leis que, infelizmente, não são aplicadas.
Segundo Christiane, o trabalho do Instituto e de outras fundações no país – muitas vezes criadas por pais e parentes de vítimas de trânsito – é importante, porque estão fazendo a diferença. A fundadora do Iptran observa, porém, que, no caso de morte, há um efeito social perverso que desestrutura toda a vida familiar.
“Quando se enterra um filho, acaba se matando a família inteira. Quando enterram um filho, um pai e uma mãe não querem mais viver, o pai normalmente vai para a bebida, e essa família se desmancha. O marido perde duas vezes: perde o filho e a esposa. Temos aí um problema social enorme, de proporções assustadoras. São famílias que não produzem mais. E quando os jovens não morrem, ficam com sequelas para a vida toda. A mãe que trabalhava tem que parar de trabalhar para cuidar desse filho. Vemos uma fatia da humanidade assustada, perdendo seus empregos e sonhos.”
A ONG Instituto Paz no Trânsito foi criada em junho de 2010 pelo casal Gilmar e Christiane Yared, pais de Gilmar Rafael Souza Yared, de 26 anos, e do jovem Carlos Murilo de Souza, de 20, que morreram no acidente de trânsito em Curitiba envolvendo o então deputado federal Fernando Ribas Carli Filho, em 7 de maio de 2009. O episódio deu início ao movimento “190 km/h é crime”, que obteve repercussão nacional com a distribuição voluntária de 500 mil adesivos e o registro de 19 milhões de pesquisas em sites de busca.