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Carnaval registra menos mortes e acidentes nas rodovias brasileiras

ENTREVISTA COM CHRISTIANE YARED 2 DE 11 02 16
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O Carnaval brasileiro deste ano não foi igual ao que passou. Pelo menos nas estradas. Balanço parcial divulgado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) de sexta-feira, 5, até a meia-noite de terça-feira, 9, revela diminuição tanto no número de acidentes quanto nos de mortos e feridos nas rodovias federais do país.

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De acordo com o balanço, foram registrados 1.429 acidentes em comparação com os 2.306 em igual período de 2015. Os acidentes graves caíram de 344 no ano passado para 150 neste ano, enquanto o número de mortos recuou de 97 em 2015 para 94 este ano, e o de feridos baixou de 2.306 para 1.415.

Apesar da redução, a fiscalização da Polícia Rodoviária contabilizou 1.249 motoristas dirigindo embriagados, dos quais 153 foram presos, foram lavradas 69.448 multas por excesso de velocidade e mais de seis mil por ultrapassagens proibidas. No período, foram fiscalizados 151 mil veículos, do que resultou em 30 mil multas diversas e 1.500 apreensões.

No Estado do Rio de Janeiro, as reduções foram ainda mais significativas, embora o número de óbitos tenha crescido em relação a 2015. Entre a sexta-feira, 5, e a quarta-feira, 10, foram notificados 137 acidentes, com 138 feridos e 10 mortos. No Carnaval de 2015, o total de colisões foi de 293, com 142 feridos e nove mortos.

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A Operação Carnaval 2016 no Estado emitiu mais de 4.300 multas, fiscalizou 15 mil pessoas e cerca de 11.900 veículos nas rodovias federais. Mais de 1.600 motoristas foram autuados por ultrapassagens em locais proibidos, 1.124 pessoas foram flagradas por não usarem o cinto de segurança, 40 motociclistas multados por não usarem capacete e 35 foram presas por dirigirem alcoolizadas.

As reduções de acidentes, mortos e feridos durante o Carnaval deste ano foram comemoradas por vários especialistas em segurança e educação no trânsito. A fundadora do Instituto Paz no Trânsito (Iptran) – ONG sediada em Curitiba com abrangência nacional –, Christiane Yared, diz que os números são animadores, mas o Brasil ainda tem um longo caminho de conscientização para reduzir a violência do trânsito no país.

“Esses números nos fazem crer que é possível esta mudança. Eu sempre digo que o país que a gente quer começa em cada um de nós, e quando entendemos isso começamos a mudar o comportamento. Infelizmente essas tragédias acabam acontecendo por imprudência, imperícia. As pessoas ainda têm o hábito de beber e dirigir, uma cultura do país que temos que abolir”, diz Christiane, ressaltando que o Brasil tem boas leis que, infelizmente, não são aplicadas.

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“O Código (Penal) não é tão brando. O problema é a aplicabilidade dessas leis e as brechas que acabam tendo. O Código Nacional de Trânsito é forte, é elogiado no mundo inteiro, só que as leis não são aplicadas. Não adianta você ter o melhor remédio do mundo para curar o câncer se você não tomá-lo. Nossas leis permitem o pagamento de cestas básicas, de fiança. Por que tentamos levar assassinos de trânsito a júris populares? Porque com o júri é feita a leitura: se essa pessoa tem poder, carrão do ano,  e matou e ela vai ser punida, eu não vou fazer, porque eu também serei punido.”

Segundo Christiane, o trabalho do Instituto e de outras fundações no país – muitas vezes criadas por pais e parentes de vítimas de trânsito – é importante, porque estão fazendo a diferença. A fundadora do Iptran observa, porém, que, no caso de morte, há um efeito social perverso que desestrutura toda a vida familiar.

“Quando se enterra um filho, acaba se matando a família inteira. Quando enterram um filho, um pai e uma mãe não querem mais viver, o pai normalmente vai para a bebida, e essa família se desmancha. O marido perde duas vezes: perde o filho e a esposa. Temos aí um problema social enorme, de proporções assustadoras. São famílias que não produzem mais. E quando os jovens não morrem, ficam com sequelas para a vida toda. A mãe que trabalhava tem que parar de trabalhar para cuidar desse filho. Vemos uma fatia da humanidade assustada, perdendo seus empregos e sonhos.”

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Christiane diz que um dos trabalhos mais importantes da ONG é justamente o de reestruturar essas casas, oferecendo às famílias ajuda de psicólogos, psiquiatras, encaminhamento a médicos, orientação jurídica, obtenção de cestas básicas, auxílio medicação para que essas pessoas possam ter um pequeno fôlego. “Nós precisamos mudar, não tem jeito, porque se você não é o motorista, é o passageiro ou o pedestre.”

A ONG Instituto Paz no Trânsito foi criada em junho de 2010 pelo casal Gilmar e Christiane Yared, pais de Gilmar Rafael Souza Yared, de 26 anos, e do jovem Carlos Murilo de Souza, de 20, que morreram no acidente de trânsito em Curitiba envolvendo o então deputado federal Fernando Ribas Carli Filho, em 7 de maio de 2009. O episódio deu início ao movimento “190 km/h é crime”, que obteve repercussão nacional com a distribuição voluntária de 500 mil adesivos e o registro de 19 milhões de pesquisas em sites de busca.

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