Além de manter a perspectiva em negativa – o que significa um possível novo rebaixamento em futura avaliação –, a S&P justificou a decisão pela difícil situação fiscal do país, o ambiente de incertezas políticas e o agravamento das contas externas.
Petrassi nega que a decisão da S&P tenha conotações políticas ou signifique um movimento externo de conspiração contra a economia brasileira. “Infelizmente, a situação do Brasil vem piorando nos últimos anos, e, se você analisar os indicadores econômicos, o lado fiscal está muito ruim. A gente vem de um déficit nominal do PIB de 2,8% em 2014 e que está hoje em quase 10%. A relação dívida x PIB, outro indicador que o mercado olha muito, tem piorado sistematicamente, e as projeções já indicam uma projeção de 80% de participação do PIB na dívida daqui a um ano, um ano e meio. Fora isso, a inflação continua elevada, acima de 10% no ano passado, e provavelmente este ano deve encostar em 8%, dois pontos acima do teto da meta, um PIB negativo de 4% projetado para 2015, e para 2016 nada diferente.”
Em diversas outras situações, porém, as três principais agências de avaliação de risco (S&P, Fitch e Moody´s) utilizaram rebaixamentos como forma de pressão política. Em 2015, a própria S&P cortou em um nível a nota da dívida soberana da Rússia, de "BBB-" para "BB+", tirando o país do chamado grau de investimento. A nota "BBB-" ainda significa que o país é considerado seguro para investir, mas aponta para um aumento do risco. A revisão ocorreu após o envolvimento da Rússia em apoio aos movimentos separatistas do Leste da Ucrânia e ao plebiscito que aprovou a reincorporação da Crimeia à Federação Russa.
O sócio-gestor da Leme Investimentos garante, porém, que o cenário brasileiro justifica a revisão, e nega haver comparação com a melhora das avaliações das agências em relação à Argentina.
“Quanto menos o Estado intervém na economia, melhor. Você tinha no Governo Kirchner o Governo intervindo nos números de inflação, na remessa de dólar. O mercado trabalha com expectativa. O Macri quebrou todas as políticas da Kirchner, abrindo a economia e se associando com os países que deve se associar, como Chile, Estados Unidos, e não com países como Cuba, Venezuela. A expectativa da Argentina é muito melhor, e infelizmente a gente está no caminho contrário, fazendo as alianças externas erradas.”
A situação no país vizinho, contudo, não é confortável hoje. Segundo informa a Prensa Latina, o Centro de Economia Política Argentina (Cepa) divulgou um estudo que revela que o mês de fevereiro registra a maior fuga de capitais do país em 4 anos. Já o peso argentino chegou ao patamar de 15,13 por dólar, ampliando a desvalorização da moeda imposta por Macri logo após a posse. Na questão das reservas, ainda segundo a Cepa, a venda de divisas equivale a 10% das reservas do Banco Central Argentino, que só em dezembro diminuíram US$ 2,4 bilhões.
Em termos de Brasil, Paulo Petrassi vê um quadro difícil, mas discorda dos analistas que apontam riscos para o Governo na administração da dívida interna.
“O pior é a falta de reconhecimento da equipe econômica para a gravidade da situação. A S&P foi a primeira empresa a rebaixar o rating, e ela complementou agora. A equipe econômica não está indo para direção alguma, não toma as atitudes devidas, e o lado fiscal está dramático, mas não vejo esse cenário de calote da dívida interna ou do Tesouro Direto como já vieram perguntar, porque o Tesouro pode emitir moeda e gerar inflação. Risco de calote não tem, mas pode haver uma inflação alavancada dobrando, indo para 18%, 20%, mas não é nada que a gente vislumbre para este ano.”