O Papa e a pílula: médico católico aprova; bispo pede prudência

ENTREVISTA COM ANTONIO BRAGA 3 DE 18 02 16
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O Papa Francisco surpreendeu o mundo nesta quinta-feira, 18, ao recomendar o uso de contraceptivos às mulheres que temem ser contaminadas pelo vírus zika, apontado como provável causador de microcefalia.

O Chefe da Igreja Católica Apostólica Romana fez esta recomendação quando retornava da sua viagem ao México. Nas palavras do Papa Francisco, “as mulheres podem fazer uso de métodos contraceptivos, como preservativos e pílulas anticoncepcionais”, mas em hipótese alguma devem se submeter às práticas de aborto. De acordo com o Papa, “o aborto não é uma questão qualquer, é um crime. Já evitar uma gravidez não é um mal absoluto”.

Sobre as recomendações do Papa Francisco, Sputnik Brasil conversou com o médico Antônio Braga, professor de Obstetrícia das Faculdades de Medicina das Universidades Federal do Rio de Janeiro e Fluminense. Católico de formação e admirador do Papa Francisco, o Dr. Antônio Braga afirmou:

“Certamente, a posição do Papa Francisco demonstra a sua grande sensibilidade social, uma vez que o Brasil e vários outros países estão vivendo o que a Organização Mundial de Saúde chamou de um grande surto epidemiológico que é o risco de as mulheres grávidas adquirirem o zika vírus e esta infecção determinar malformações congênitas, sendo possivelmente a mais grave a microcefalia.”

Antônio Braga afirma ainda que o Papa demonstrou grande sensibilidade diante da questão e “acertadamente condenou o aborto. O aborto é muito traumático para a mulher. Nenhuma mulher aborta porque quer e, sim, porque se vê na contingência de assim o fazer. Mas ela vai carregar os traumas e as sequelas deste ato pelo resto da sua vida.”

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O médico observa também que ainda não há evidências científicas de que o zika vírus cause microcefalia. “Mas é preciso ter cautelas. Nossa experiência profissional também tem revelado que muitas mulheres dão à luz crianças com cérebros de tamanho normal porém, no seu interior, há graves lesões que vão comprometer a vida destas crianças. Então, tudo o que a comunidade médica e científica tem a fazer neste momento é estudar muito bem estes casos, realizar muitas pesquisas, desenvolver vacinas e medicamentos e, principalmente, encontrar respostas, porque as dúvidas e as perguntas são muitas.”

O Dr. Antônio Braga também elogiou o Papa Paulo VI, citado pelo Papa Francisco, ao lembrar que, durante o seu Papado, entre os anos de 1963 e 1978, ele permitiu às freiras que atuavam no Congo o uso de pílulas que evitariam gravidez, já que as religiosas eram vítimas constantes de violência sexual.

Já o Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Antônio Augusto Dias Duarte, responsável pela Pastoral da Família, da Juventude e da Saúde, além de médico pediatra e professor de Bioética e Moral Fundamental do Seminário São José, diz que as palavras do Papa Francisco precisam ser mais bem interpretadas. Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Dom Antônio Augusto assim se manifestou:

“Em momento algum o Papa Francisco disse que as mulheres devem fazer uso regular de contraceptivos como pílulas anticoncepcionais e preservativos. Ele se referiu a uma exceção, de quando o Papa Paulo VI recomendou às religiosas vítimas de violência sexual na África o uso de pílulas que impedissem a ovulação como forma de prevenir a gravidez. Então, em momento algum, o Papa Francisco incentivou o uso de métodos contraceptivos. Pelo contrário, o Papa deixou bem clara a sua recomendação de que questões referentes à gravidez devem ser tratadas como maternidade e paternidade responsável, o que implica em cuidados extremos com a saúde da gestante e da criança que ela carrega. Isso inclui a prevenção à gravidez, que o Papa vê como um mal menor. Evitar é planejar, é regular o crescimento da família e tomar todos os cuidados possíveis para que não haja consequências desagradáveis.”        

Assim como o Dr. Antônio Braga, o Bispo Dom Antônio Augusto elogiou o Papa Francisco por incentivar a ciência a buscar um rápido desenvolvimento de fármacos e vacinas que se mostrem eficazes na prevenção e no tratamento do zika vírus.

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