Segundo o Tribunal Superior Eleitoral da Bolívia, entre o “Sim” e o “Não”, o eleitorado optou por não dar mais uma chance a Evo Morales de se reeleger consecutivamente.
Para Rafael Araújo, da Unilasalle, especialista em políticas latino-americanas, o resultado do referendo não traduz uma insatisfação do eleitorado com o presidente boliviano. Falando à Sputnik Brasil, o Professor Araújo disse que “o povo da Bolívia não está contra Evo Morales e nem poderia estar, porque ele promoveu o crescimento econômico do país. Mas no referendo de domingo o recado das urnas foi claro: a democracia exige alternância de poder”.
“Eu não acredito que seja uma oposição ao Governo dele, visto que os indicadores sociais do país melhoraram na última década”, comenta Rafael Araújo. “A economia boliviana cresceu uma média de 5% ao longo desses 10 anos do Governo de Evo Morales. Eu não acredito, também, que seja uma rejeição ao Movimento Ao Socialismo, o partido do presidente, ou ao próprio Evo Morales, mas há uma negativa da possibilidade de perpetuação do presidente no poder. É evidente que isso também serve como um alerta para o Governo. O apoio pode estancar, caso os índices positivos do país, tanto na economia quanto no aspecto social, decaiam ou que não haja a continuidade de um crescimento de investimentos sociais, por exemplo.”
O especialista em políticas latino-americanas afirma ainda que a vitória do “Não” no referendo de domingo pode ser encarada como uma crítica à tentativa de reprodução, na Bolívia, do que se viu na Venezuela ao longo do Governo de Hugo Chávez.
“Se confirmada a vitória do 'Não' [o que deverá acontecer no decorrer desta semana], fica claro para o Governo que não há apoio do eleitorado a essa tentativa de reeleição continuada que o Evo Morales está tentando. Há uma sinalização de que os bolivianos não querem uma perpetuação de Evo Morales no poder. Isso não significa que numa disputa eleitoral não possa ganhar um candidato indicado pelo Movimento Ao Socialismo (MAS), visto que há um apoio, de fato, de segmentos sociais importantes da Bolívia ao MAS e ao próprio Evo Morales, pelas melhorias sociais e econômicas que ocorreram no país na última década. Por isso estou fazendo questão de analisar esse resultado: uma coisa é a rejeição a mais uma reeleição de Evo Morales, e outra coisa é, a partir disso, tomar um indicativo de que há uma rejeição dos bolivianos ao MAS e ao próprio Governo.”