Analista aponta orquestração da mídia contra governos da América Latina

COM CAIO MANHANELLI
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O presidente da Bolívia, Evo Morales, se mostrou esperançoso de que os votos das populações indígenas do interior possam reverter a indicação de vitória dos contrários à reforma da Constituição, o que lhe possibilitaria exercer um novo mandato. Com quase 80% das urnas apuradas, os contrários chegavam a 54%, contra 46% dos favoráveis.

Quase 6,5 milhões de bolivianos votaram no país no domingo e outros 300 mil no exterior. Na segunda-feira, Morales disse que respeitaria os resultados do referendo de domingo, sejam quais forem. Se perder no plebiscito, será a primeira derrota do presidente boliviano nas urnas em 10 anos, o que o obrigaria a passar o cargo para um sucessor após a eleição em 2019, quando finalizar o terceiro mandato.

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Embora fiscalizada de perto por várias organizações latino-americanas que validaram a transparência da consulta, vários analistas têm denunciado uma constante campanha da mídia contra o governo.

Em entrevista à Telesur, TV estatal da Venezuela, o analista político Juan Manuel Karg afirmou que a campanha de desinformação na Bolívia, em relação à consulta, foi coordenada pela direita latino-americana para obter uma terceira vitória sobre os governos progressistas da região. Segundo ele, a campanha contra o governo e a figura de Evo Morales afetou o referendo.

Denúncias sobre uma orquestração midiática contra governos de esquerda na América Latina têm aumentado nos últimos anos, especialmente em relação ao Brasil, Venezuela, Bolívia e em menor grau ao Equador. Da mesma forma, muitos desses críticos têm apontado uma mudança de postura quanto à Argentina, logo após a posse do presidente Maurício Macri, que encerrou 13 anos de governos kirchneristas.

O coordenador da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Caio Manhanelli, diz que, embora não se possa dizer que existe uma campanha efetiva e oficial contra esses países, o fato é que eles “sofrem em decorrência de um sistema que está falindo agora, que é o capitalismo.”

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“Há possibilidade de visualizar esse tipo de orquestração, se a gente usar o viés correto. Existe sim uma tendência mais à direita ideologicamente rechaçando algumas atitudes mais preservacionistas, nacionalistas de governos que são de esquerda. Não existe isso declarado, um ator para isso, embora alguns presidentes de esquerda até ajudem bastante as críticas. Maduro é um exemplo bem claro.”

Segundo Manhanelli, o Ocidente pensa de uma forma pautada em três valores que são os valores franceses de liberdade, igualdade e fraternidade, e os direitos humanos vêm pautados em cima disso.

“O que vem daí é uma construção ideológica sem ator, porque os Estados vão se solidificando em relação aos direitos. Tanto a esquerda quanto a direita debatem em cima disso, pautadas no mesmo argumento que são os direitos da humanidade que devem ser preservados. Obviamente o que vem contra isso vai ser rechaçado, e a direita vai usar esse mesmo tipo de motor conforme sua conveniência.”

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Manhanelli garante existir um interesse financeiro por trás das críticas a esses governos.

“O que se vê hoje é a mídia operando segundo alguns valores, e ela já opera sozinha. Não precisa de ninguém falando qual é a agenda, que já é introjetada, baseada nos valores dessa sociedade neoliberal. Isso é uma coisa normal nos Estados Unidos, onde se sabe quem é a mídia liberal e quem é a democrata. Esse é um princípio que todos temos assimilado de certa forma.”

Segundo o especialista, tal comportamento pode ser visto em todos os tipos de mídia na América Latina.

“No Brasil você vê as grandes emissoras, principalmente a que tem mais credibilidade, oscilando bastante. É óbvio que há uma seleção de pautas, e isso ficou muito claro em alguns trabalhos acadêmicos. Realmente a Globo é a emissora que menos opina, mas é a que tem a maior seleção do que vai para a tela. Você não precisa manipular emitindo opinião, pode manipular não emitindo outro tipo de notícia.”

Manhanelli diz que quem pauta essa mídia são os grupos que têm interesse em grandes negócios e não na preservação de políticas de preservação nacional.

“A mídia trabalha para desestruturar isso desde a época da colonização. Os países centrais se preservam, mas os periféricos não, e aqueles que tentam seguir uma cartilha social-democrata mais preservacionista acabam sendo rechaçados por interesses econômicos que pautam a própria mídia. Quem são os porta-vozes desses interesses? Quem recebe verba de publicidade e quem vende informação nesses grupos midiáticos.”

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