Quase 6,5 milhões de bolivianos votaram no país no domingo e outros 300 mil no exterior. Na segunda-feira, Morales disse que respeitaria os resultados do referendo de domingo, sejam quais forem. Se perder no plebiscito, será a primeira derrota do presidente boliviano nas urnas em 10 anos, o que o obrigaria a passar o cargo para um sucessor após a eleição em 2019, quando finalizar o terceiro mandato.
Em entrevista à Telesur, TV estatal da Venezuela, o analista político Juan Manuel Karg afirmou que a campanha de desinformação na Bolívia, em relação à consulta, foi coordenada pela direita latino-americana para obter uma terceira vitória sobre os governos progressistas da região. Segundo ele, a campanha contra o governo e a figura de Evo Morales afetou o referendo.
Denúncias sobre uma orquestração midiática contra governos de esquerda na América Latina têm aumentado nos últimos anos, especialmente em relação ao Brasil, Venezuela, Bolívia e em menor grau ao Equador. Da mesma forma, muitos desses críticos têm apontado uma mudança de postura quanto à Argentina, logo após a posse do presidente Maurício Macri, que encerrou 13 anos de governos kirchneristas.
O coordenador da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Caio Manhanelli, diz que, embora não se possa dizer que existe uma campanha efetiva e oficial contra esses países, o fato é que eles “sofrem em decorrência de um sistema que está falindo agora, que é o capitalismo.”
Segundo Manhanelli, o Ocidente pensa de uma forma pautada em três valores que são os valores franceses de liberdade, igualdade e fraternidade, e os direitos humanos vêm pautados em cima disso.
“O que vem daí é uma construção ideológica sem ator, porque os Estados vão se solidificando em relação aos direitos. Tanto a esquerda quanto a direita debatem em cima disso, pautadas no mesmo argumento que são os direitos da humanidade que devem ser preservados. Obviamente o que vem contra isso vai ser rechaçado, e a direita vai usar esse mesmo tipo de motor conforme sua conveniência.”
“O que se vê hoje é a mídia operando segundo alguns valores, e ela já opera sozinha. Não precisa de ninguém falando qual é a agenda, que já é introjetada, baseada nos valores dessa sociedade neoliberal. Isso é uma coisa normal nos Estados Unidos, onde se sabe quem é a mídia liberal e quem é a democrata. Esse é um princípio que todos temos assimilado de certa forma.”
Segundo o especialista, tal comportamento pode ser visto em todos os tipos de mídia na América Latina.
“No Brasil você vê as grandes emissoras, principalmente a que tem mais credibilidade, oscilando bastante. É óbvio que há uma seleção de pautas, e isso ficou muito claro em alguns trabalhos acadêmicos. Realmente a Globo é a emissora que menos opina, mas é a que tem a maior seleção do que vai para a tela. Você não precisa manipular emitindo opinião, pode manipular não emitindo outro tipo de notícia.”
Manhanelli diz que quem pauta essa mídia são os grupos que têm interesse em grandes negócios e não na preservação de políticas de preservação nacional.
“A mídia trabalha para desestruturar isso desde a época da colonização. Os países centrais se preservam, mas os periféricos não, e aqueles que tentam seguir uma cartilha social-democrata mais preservacionista acabam sendo rechaçados por interesses econômicos que pautam a própria mídia. Quem são os porta-vozes desses interesses? Quem recebe verba de publicidade e quem vende informação nesses grupos midiáticos.”