'Marketing de guerrilha' incendeia redes sociais portuguesas

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O país parou dois dias para discutir religião, ou melhor, para discutir um “ataque” aos que acreditam em Deus.

A União Europeia está se desmoronando devagarinho, os refugiados se aglomeram contra o arame farpado das novas fronteiras europeias mas cá, na terrinha, para além da eleição do novo dirigente da FIFA, o principal tema de discussão estes dias nas redes sociais tem sido um cartaz do Bloco de Esquerda, a festejar a aprovação da lei sobre a adoção gay.

© Foto / esquerda.netCartaz publicado pelo Bloco de Esquerda
Cartaz publicado pelo Bloco de Esquerda - Sputnik Brasil
Cartaz publicado pelo Bloco de Esquerda

O referido cartaz mostra uma imagem de Jesus Cristo, acompanhada do slogan: “Jesus também tinha 2 pais”. O cartaz despertou uma enorme polêmica nas redes sociais. A maioria dos comentários vai no sentido de que o cartaz foi infeliz, de mau gosto e que, num país em que a maioria da população é católica, não foi mais do que um “tiro no pé”. 

Refira-se que BE nasceu da aproximação de três forças políticas: a União Democrática Popular (marxista), o Partido Socialista Revolucionário (trotskista) e a Política XXI, às quais posteriormente se juntaram vários outros movimentos.

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Mas vejamos primeiro a posição do próprio Bloco de Esquerda. Diz uma nota do partido sobre a nova lei, que permite a casais homossexuais adotarem crianças: “A campanha marca esta conquista enorme do fim da discriminação na lei contra famílias e crianças por causa da orientação sexual das pessoas”. 

Até aqui nada seria de estranho porque o país já se vai habituando às moderníssimas iniciativas legislativas do Bloco, desde a lei do aborto, a lei do casamento homossexual e, em breve, a lei da procriação medicamente assistida e a da eutanásia. Os deputados de esquerda recusam um referendo nacional sobre este último tema, também polêmico, considerando que o Parlamento tem total legitimidade para aprovar uma lei sobre o assunto. Recorde-se que o partido faz, com o Partido Socialista e o Partido Comunista, parte do acordo parlamentar e da maioria que suporta o atual governo. 

Mas adiante.

A explosão de comentários negativos (e alguns positivos) nas redes sociais foi tal que levou inclusive à publicação de imagens “de retaliação”: uma verdadeira guerra de cartazes. Há até quem fale em “marketing de guerrilha”. O bem-humorado cartaz “retaliador”, com a imagem do primeiro-ministro António Costa em primeiro plano, diz: “Costa também tinha 2 pais”, alusão ao comunista Jerónimo de Sousa e à bloquista Catarina Martins, de extrema-esquerda, com os quais se aliou para chegar ao poder.

Cartaz “retaliador”, com a imagem do primeiro-ministro António Costa em primeiro plano
Cartaz “retaliador”, com a imagem do primeiro-ministro António Costa em primeiro plano - Sputnik Brasil
Cartaz “retaliador”, com a imagem do primeiro-ministro António Costa em primeiro plano

Entretanto, a eurodeputada do BE Marisa Matias, recentemente candidata presidencial, considerou esta sexta (26) que o polêmico cartaz do seu partido "foi um erro". Escreveu ela no Facebook: "Acho que saiu ao lado da intenção que se pretendia. Que foi um erro."

Curiosamente, não foi só nas redes sociais que houve discussão e confusão. Até o respeitado Diário Económico saiu ontem com a manchete humorística “Bolsas em alta em dia que Bloco de Esquerda reconhece a existência de Deus”.

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Para que o leitor tenha uma ideia das paixões que vão pelas redes sociais portuguesas, publicamos alguns dos comentários (com permissão dos autores):

“Pena que não haja por aí um ou dois Cristãos que não gostem de dar a outra face e ensinem a esta gente do Bloco de Esquerda o que é o respeito.”

“A mim não me incomoda usarem a imagem de Jesus. Incomoda-me a instrumentalização vinda de um partido que esperneia ou chama um exorcista quando vê uma cruz e aborrece-me o machismo do cartaz.”

“É lamentável que um partido que tem como dever representar cidadãos eleitores tenha uma atitude destas com um só objetivo: o de provocar um grupo de cidadãos (que até é maioritário em Portugal). É absolutamente lamentável!!”

“Pessoalmente, não me choca. Tenho uma carapaça dura em termos religiosos. Mas penso terem sido pouco inteligentes porque naturalmente que tal abordagem iria colidir com as crenças de muitos. E também há outro aspeto: quem não usa a religião para uns fins não o deve eventualmente usar para outros, ao sabor dos interesses.”

Mas também há comentários a favor do cartaz como o seguinte: 

“Quem se insurgiu no Facebook contra o cartaz, será que também protesta contra bispos e padres que infringem as regras da Igreja sempre que há notícias sobre o assunto? Abaixo a hipocrisia!”

 “A campanha de rua com que o BE fará esta celebração (da legalização da adoção gay) representa um tiro em cada pé (…)  Infelizmente, é mau gosto. O BE a fazer de adolescente provocador sem necessidade alguma.” 

Com a sociedade portuguesa dividida sobre o assunto, resta ao leitor decidir por si próprio.

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