Segundo os seis especialistas da Organização das Nações Unidas, “sob o argumento de combate ao terrorismo, foram cometidas torturas e detenções arbitrárias, além de desaparecimento de presos sem qualquer explicação à Justiça e à sociedade”. Os funcionários da ONU também querem que as investigações sejam conduzidas de forma isenta e imparcial, e que os resultados se tornem de conhecimento público.
Para o professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense, Daniel Aarão Reis, “a exigência dos especialistas mostra o quanto o conservadorismo dos norte-americanos impediu, durante todos estes anos, que a prisão de Guantánamo fosse fechada. Foi uma promessa de campanha não cumprida de Barack Obama e que dificilmente será concretizada este ano. Obama prometeu acabar com a prisão de Guantánamo ainda durante a campanha do seu primeiro mandato e, agora, em seu último ano de Governo, pretende fazer algo que dificilmente será mesmo executado”.
Ainda segundo o Professor Aarão Reis, quando Obama assumiu, suscitou muitas esperanças. “Algumas, porém, foram descabidas, porque se ele representou, de fato, uma mudança – era um negro na Presidência dos Estados Unidos –, muitos se esqueceram de que ele era uma pessoa muito conservadora.”
“A prisão da Base de Guantánamo é uma violação dos direitos humanos na sua própria existência”, afirma Aarão Reis. “Ela é resultante de um acordo do tipo colonial, e mesmo o prazo do acordo do tipo colonial já foi vencido há muitos anos. Por isso eu acho que os EUA têm que fechá-la imediatamente, se quiserem respeitar os direitos humanos.”
O especialista em História Contemporânea condena a existência, a prática e a transformação da Base de Guantánamo numa prisão:
“É uma excrescência, uma aberração jurídica que tem que acabar. A opinião pública internacional tem que se mobilizar para pressionar os governantes norte-americanos a encerrar essa Base, coisa que eles deveriam ter feito há muito tempo. Espera-se agora que Obama tenha a coragem, que lhe faltou até hoje, de fechar a Base, exercendo as prerrogativas que ele tem como presidente da República.”
Daniel Aarão Reis diz ainda que os EUA tinham em relação a Cuba a ideia de que a ilha era “um quintal deles, uma colônia, não juridicamente, mas de fato”.
“Os norte-americanos transformaram Cuba numa espécie de Disneylândia onde se realizavam todos os tráficos, uma Disneylândia do mal. E quando houve a Revolução Cubana isso representou um choque para aquele conservadorismo, e mesmo os liberais americanos ficaram chocados com isso. Não esqueçamos que, embora as represálias à Revolução Cubana tenham começado com um presidente republicano – Eisenhower –, continuaram com presidentes democratas – John Kennedy e Lyndon Johnson.”
O Professor Aarão Reis conclui afirmando que “a demora em fechar essa aberração jurídica que é Guantánamo está ligada a essa tradição conservadora norte-americana, e esperamos todos que nesse final de mandato Obama tenha coragem de fechar aquela aberração”.