Em meados deste mês, chegam ao local engenheiros e técnicos da Ceiec, estatal chinesa contratada para executar a obra, orçada em US$ 99,6 milhões (cerca de R$ 370 milhões) e que, quando concluída, poderá abrigar 64 pessoas. A previsão da Marinha Brasileira é inaugurar as novas instalações no ano que vem. Nos últimos anos, as pesquisas do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) foram realizadas em acampamentos, em refúgios e nos módulos emergenciais, ao lado da área da Estação Antártica Comandante Ferraz original. A logística e a mão de obra são responsabilidades da estatal chinesa, que projeta utilizar 200 operários.
O representante oficial do Brasil no Comitê Internacional de Pesquisa Antártica, Jefferson Simões, lembra que o programa brasileiro na Antártida não parou após o incêndio de 2012, mas foram bastante reduzidas as atividades de investigação.
“A comunidade científica está muito feliz, pois, apesar das dificuldades da Lei de Licitações, finalmente foi lançada esta pedra fundamental”, comenta Jefferson Simões. “Teremos a Estação pronta no verão de 2017. A relevância da Estação é tanto do ponto de vista científico quanto do geopolítico. Cientificamente, vamos restabelecer algumas pesquisas na área da atmosfera, ciência da vida, como a relacionada à questão de biotecnologia de uso de algas marinhas antárticas, também no monitoramento da camada de ozônio e algumas pesquisas sobra radiações solares.”
No ano passado, o Brasil completou 40 anos de reconhecimento do Tratado da Antártida, mas a presença regular de pesquisadores só se intensificou nos anos 1980. Gomes lembra que, apesar da importância da reconstrução da base, somente 25% das pesquisas antárticas brasileiras são feitas na Estação Antártica Comandante Ferraz. Para seu plano arquitetônico e de construção foi ouvida a comunidade científica – a Estação antiga não considerava isso, porque ela foi sendo construída aos poucos.
Segundo o representante brasileiro, a nova Estação será construída com o chamado “estado da arte”, com materiais de última geração, e vai ter 17 laboratórios. Grande parte da pesquisa científica brasileira é feita no navio polar “Almirante Maximiano”, onde são realizadas pesquisas oceanográficas, e também em acampamentos, no módulo automatizado a 2.500 quilômetros ao sul da Estação. Ou seja, o Programa Antártico Brasileiro é muito mais abrangente do que a Estação.
"O Programa Antártico Brasileiro é gerenciado pela Secretaria de Comunicação Interministerial para os Recursos do Mar, mas os executores das pesquisas são os grupos em universidades. Temos mais de 22 instituições universitárias brasileiras envolvidas com a colaboração de cerca de 30 instituições internacionais das mais diferentes áreas. Concentramos hoje boa parte de nossas pesquisas em 5 áreas temáticas devido a um plano de ação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, principalmente para entendermos o papel do oceano austral e da atmosfera antártica na variabilidade climática do Brasil e como podemos melhorar os modelos meteorológicos para todo o país. Também estudamos a questão da biodiversidade e os impactos da mudança do clima na Antártida e no gelo antártico e como isso está relacionado a processos no Brasil", diz Jefferson Simões.
Em relação à cooperação internacional entre os países, o representante brasileiro no Comitê Internacional de Pesquisa Antártica garante que não poderia ser melhor:
"O Tratado da Antártida tem uma característica muito importante: ele impinge aos países membros a cooperação internacional, a divulgação de dados. A comunidade científica gosta muito porque representa não só parceria, como também divisão de recursos. É uma parceria muito forte, principalmente nas pesquisas de vanguarda. Temos cooperação com projeto de pesquisa alemão, norte-americano, australiano, já tivemos com os japoneses. Na América Latina, nossa principal colaboração é com o Chile e a Argentina, mas depende muito da área de conhecimento. Com o Chile temos colaboração na área de glaciologia e geologia; com a Argentina, na área de biociências, geofísica e geleiras; e em microbiologia, principalmente com os Estados Unidos e países europeus."