A líder indígena, da etnia lenca, já havia recebido inúmeras ameaças de morte por defender as lutas de seu povo, liderar manifestações pelo meio ambiente, contra a construção de hidrelétricas, e, também, por encabeçar os protestos de 2009 contra o golpe de Estado que derrubou o então Presidente Manuel Zelaya.
Em 2013, a ativista também ficou mais conhecida por denunciar os planos dos Estados Unidos de instalar em Honduras a maior base militar norte-americana em toda a América Latina. Em suas declarações, ela afirmava que a instalação seria “um projeto de dominação e colonização com o propósito de saquear os recursos dos bens comuns da natureza” naquela nação da América Central.
“Os EUA, lembre-se, sempre usaram Honduras como uma plataforma para invadir outros povos irmãos, como aconteceu nos anos 1980 contra a Nicarágua. Desta vez, poderia ser a Venezuela”, advertiu a ativista na ocasião.
“Se de um lado, se tem a ânsia sangrenta do capital – no caso dela, a ânsia de empresas de mineração e de megaprojeto hidrelétrico como foi denunciado –, por outro lado há governos que apoiam e avançam com muita força sobre territórios e vidas. Isso está dentro do complexo projeto do capital de que alguns países só devem existir para oferecer mão de obra e terra para os megaprojetos do capitalismo", diz o coordenador da Pastoral da Terra.
Santos afirma que esse projeto do capital está ligado ao massacre de comunidades que lutam por terras e territórios.
“Aqui no Brasil, por exemplo, somente até o início de março você já tem 9 assassinatos de lideranças camponesas que se inserem também nesse contexto de comunidades que estão buscando continuar em sua terra e que entram em choque com os interesses das grandes empresas. Infelizmente os governos têm dado apoio a todas essas empresas. [A morte de Berta Cáceres] não é apenas um anúncio, é um ataque que subiu de nível. Você tem um avanço da violência no aspecto da própria barbárie. É um ataque a luta de vários países, de todo o povo indígena.”
Já para o coordenador da organização Terra de Direitos, Darci Frigo, o episódio de Berta não é isolado:
"Temos em vários países a investida pesada do capital transnacional que coloca os Estados a serviço de seus interesses. Quando a população local, atingida por esses interesses, é expulsa de suas terras, muitas das lideranças que organizam esses protestos, a resistência daqueles que sofrem, acabam sendo vítimas de violência e ameaças como aconteceu com Berta Cáceres."
Trigo lembra que nos anos 80 foram vistas investidas pesadas dos Estados Unidos na América Central. Um pouco antes, nos anos 70, já havia a dominação na Nicarágua, e na Guatemala se registrava o genocídio da população indígena.
“Sempre houve a presença e aporte da inteligência militar e política que vinha dos Estados Unidos para proteger interesses de grandes empresas transnacionais que atuavam nesses países. Agora não é diferente. Eles [interesses] continuam sendo defendidos com a guerra que não termina nunca no Oriente Médio", diz Darci Frigo.
Ainda sobre a morte de Berta Cáceres, e em resposta a um pedido de posicionamento, a Anistia Internacional enviou a seguinte nota oficial à Sputnik Brasil:
"O brutal assassinato da líder indígena em Honduras traça um quadro terrível dos perigos enfrentados pelos defensores dos direitos humanos e ativistas sociais no país. O assassinato covarde de Berta é uma tragédia anunciada. Durante anos, ela tinha sido vítima de uma campanha sustentada de assédio e ameaças para impedi-la de defender os direitos das comunidades indígenas", disse Erika Guevara-Rosas, diretora da Anistia Internacional para as Américas.
"A menos que as autoridades de Honduras tomem medidas decisivas para encontrar os responsáveis por este crime hediondo e para proteger outros ativistas como Berta, elas terão sangue em suas mãos. O Governo deve levar os responsáveis por este crime à Justiça e garantir a proteção para sua família e todos os membros do conselho. A morte de Berta terá um impacto devastador para muitos ativistas e organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, que trabalharam com ela para garantir os direitos de que algumas das pessoas mais vulneráveis das Américas estão protegidas", sublinha a Anistia.