A ocupação do Palácio Anchieta, já terminada, foi executada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Sem Terra (MST) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Em Goiânia, a ação foi realizada pela militância da CUT.
Em Vitória, Dorizete Cosme, integrante da direção do MPA, diz que a ocupação ocorreu devido às contínuas recusas do Governador Paulo Hartung (PMDB) em receber os representantes dos movimentos sociais. Segundo ele, desde novembro do ano passado o MPA e outras entidades tentam encontrar um espaço na agenda do Executivo para apresentar uma lista de reivindicações, como medidas para coibir a violência contra mulheres, ações contra o fechamento de escolas nas zonas rurais e em cidades do interior e providências contra a seca e a estiagem que afligem o Estado.
"Conseguimos aglutinar uma pauta unificada, onde colocamos junto ao Governo do Estado várias cobranças de implementação de políticas e programas públicos que possam conter a onda de violência contra a mulher trabalhadora capixaba. O Espírito Santo é um dos Estados que, infelizmente, batem recordes em índice de violência contra as mulheres."
Segundo Cosme, há uma grande preocupação com a proposta do Governo do Estado de fechamento de escolas públicas tanto no campo quanto nas cidades, inclusive naquelas que compõem a Grande Vitória.
“Já foram desativadas cerca de 20 escolas, e há planos de fechar mais, fazendo junção de turmas. Defendemos uma pedagogia que aqui no Espírito Santo já vem sendo trabalhada há mais de 25 anos, que é a pedagogia da alternância." Conforme Dorizete Cosme, o Governo alega que os planos são decorrência da queda na arrecadação e da necessidade de um maior controle dos gastos.
Já em Goiânia, Goiás, cerca de 70 integrantes do MST invadiram parte do prédio que abriga o Grupo Jaime Câmara, onde estão instaladas a TV Anhanguera, os jornais “Popular” e “Jornal Daqui” e a rádio CBN. Com faixas e cartazes, os manifestantes fizeram várias inscrições nas paredes com frases como "Não vai ter golpe", "Globo e ditadura de mãos dadas — Fora" e “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo". Os organizadores garantem só terem ocupado a parte da frente do prédio e a recepção, sem invadir dependências internas do complexo. Após o protesto, pouco antes da meia-noite, os manifestantes se retiraram escoltados pela Polícia Militar, que só acompanhou o movimento.
Coordenador do MST em Goiás, Valdir Misnervicz diz que a atividade é parte do calendário de lutas organizado pelas mulheres de várias agremiações do campo por conta do 8 de março. As atividades começaram pela manhã com a ocupação da Secretaria de Fazenda do Estado, e no final do dia houve o protesto na afiliada da Rede Globo.
"O objetivo é fazer uma denúncia por conta desse processo histórico que a gente tem acompanhado no Brasil, onde os grandes veículos de comunicação têm atuado com força ideológica no sentido de criar uma situação na sociedade. As informações são seletivas, de interesse de um segmento da sociedade. Hoje todos sabem que há um questionamento dessa postura dos meios de comunicação, que têm apresentado uma informação a partir do interesse de um fragmento da sociedade brasileira. Os meios de comunicação, como concessão pública, deviam ter uma posição imparcial, ou seja, as informações deviam circular de uma forma democrática, onde o contraditório compareça, e não como uma informação única."
Em nota divulgada por sua assessoria de imprensa, o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), repudiou o episódio em discurso no Plenário. O senador atribuiu o protesto ao que chamou de "apelo" do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Estamos assistindo a esse crime sendo cometido por pessoas que se julgam acima da lei e que respondem ao apelo do chefe maior. Atacam a imprensa livre e afrontam a democracia. O MST se configura aqui como o verdadeiro exército de Lula, que foi provocado a ir às ruas para agir como agem os coletivos bolivarianos na Venezuela", afirmou Caiado.
Também em nota divulgada nesta quarta-feira, 9, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudiou a invasão. Para a entidade, que representa os principais veículos de comunicação do país, o episódio foi um "ato criminoso próprio de grupos extremistas, incapazes de conviver em ambiente democrático." A ANJ ressalta ainda que os jornais e demais meios de comunicação "não se deixarão pressionar por essas manifestações de intolerância e autoritarismo" e lamenta "que o vandalismo seja usado contra os meios de comunicação, que cumprem sua missão de informar a sociedade".