Depois de suceder a Ricardo Lagos e assumir a Presidência como a primeira mulher no Chile, Bachelet vem sofrendo com a opinião da maioria da população. Recente pesquisa do Instituto Adimark revela que a desaprovação dos chilenos à presidente chega a 70% dos entrevistados.
A professora de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP) Denilde Holzhacker aponta ganhos nesses dois mandatos, mas também vê desafios importantes a serem superados:
“Esse segundo mandato é considerado bastante progressista em termos de políticas sociais e de acesso à universidade. No primeiro ela teve muita dificuldade em lidar com a pressão dos estudantes. Já neste segundo houve alguns avanços nas discussões sobre quais seriam as possibilidades de gratuidade de cursos e também na política de direitos humanos, muito forte e progressista.”
A professora da ESPM também aponta a questão econômica como outra agravante da crise pela qual passa Bachelet:
“Como em outros países da América Latina, a diminuição do peso [preços] das commodities no mercado global tem afetado o Chile. Mesmo tendo políticas sociais, o Governo tem sido visto como inoperante, prejudicando a relação de Bachelet com a população. Há também uma pressão muito forte dos grupos oposicionistas, até por renúncia. Este ano vai haver eleições municipais, que serão uma prévia para as parlamentares no próximo ano. Há também uma crítica de que ela não conseguiu diversificar a economia, que continua sendo muito dependente do mercado internacional e dos Estados Unidos.”
Denilde Holzhacker discorda, porém, da tese de que os problemas enfrentados pelos Governos progressistas na América Latina são fomentados por orquestração externa.
“O cenário externo não tem contribuído para os problemas que têm acontecido. Tanto no Brasil quanto no Chile parte da crise política é resultado de uma maior insatisfação do ponto de vista econômico e de uma diminuição do crescimento de todos os Governos que foram baseados numa ideia muito forte de distribuição de renda. No momento em que o Estado tem que diminuir sua capacidade de investir em políticas sociais começa a haver outros tipos de pressão.”
Segundo a especialista da ESPM, a política na América Latina estava sendo conduzida com relações entre o público e o privado de forma não muito clara, com baixa transparência.