Na própria quinta-feira, duas medidas liminares, deferidas pela Justiça Federal de Brasília e do Rio de Janeiro, ambas de primeiro grau, sustaram a eficácia da posse de Lula. No entanto, a primeira delas foi cassada na noite da própria quinta-feira pelo Desembargador Cândido Ribeiro, presidente do Tribunal Federal de Recursos da Primeira Região. A segunda medida, que continuava em vigor, só foi cassada nesta sexta-feira, 18, pelo vice-presidente do Tribunal Regional Federal da Segunda Região, Desembargador Reis Fried.
A alegação dos desembargadores para cassar as medidas liminares é de que a competência para apreciar atos da Presidência da República (no caso, a nomeação de ministro de Estado) é do Supremo Tribunal Federal e não do juízo singular de primeiro grau.
Segundo o advogado Diego Werneck, professor de Direito Constitucional da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, este acúmulo de ações gera uma impressão de anarquia do Poder Judiciário, o que permitiu, inclusive, que juízes federais de primeiro grau se manifestassem sobre matéria de competência do Supremo Tribunal Federal.
Sobre a questão do ex-presidente Lula, Diego Werneck observa que “antes de mais nada é importante tentar separar a esfera política da esfera jurídica em algumas dessas coisas”.
“Os fatos podem ser os mesmos mas eles podem ter consequências jurídicas, consequências políticas, que podem acontecer por processos de decisão institucional completamente separados. Por exemplo: a legalidade da nomeação do ex-Presidente Lula como ministro do Governo Dilma pode ter várias repercussões, inclusive num processo mais político de impeachment. Pode-se imaginar que o teor de algumas gravações que foram reveladas, que já se tornaram públicas, pode ter impacto no convencimento dos atores políticos sobre a necessidade de se prosseguir com o processo de impeachment. É importante separar que a consequência jurídica de se permitir a um juiz que impeça a nomeação de um ministro indicado pelo presidente não é uma consequência necessária de se reconhecer que as gravações são problemáticas e que a indicação é problemática.”
A segunda coisa destacada por Diego Werneck é que “essa chuva de ações para impedir a posse do Lula mostra que nós temos um problema no Judiciário brasileiro, temos um problema de anarquia. Temos uma chuva de ações em vários Estados da Federação que permitem a juízes de primeira instância suspender um ato político da presidente da República, de indicar alguém para seu Governo".
Nas suas palavras, trata-se de um problema parecido com o que aconteceu há duas semanas, quando o Supremo Tribunal Federal discutiu uma ação que procurava impedir que o ministro da Justiça, que era também do Ministério Público, assumisse a posição, porque membro do Ministério Público não pode assumir outro cargo ou função.