Desde segunda-feira, 21, a capital argentina vem sendo palco de manifestações de movimentos sociais, organizações não governamentais e associações que criticam a visita do presidente americano na data (24 de março) dos 40 anos de instalação do regime militar, um dos mais violentos da América Latina, que deixou um saldo estimado em cerca de 30 mil mortos e desaparecidos.
Reunido com o Presidente Mauricio Macri, Obama cumpriu não só uma agenda política como também discutiu a reinserção da Argentina à comunidade financeira internacional, após a intenção de acordo do Governo em pagar aos chamados fundos abutres, grupo de investidores internacionais que não concordaram com a renegociação da dívida em default em 2005 e 2010. Esses credores, cerca de 7% do total, reclamavam na Justiça americana o pagamento da dívida pelo seu valor de face e não pela proposta, aceita pelos 93% restantes, de quitação com descontos de até 60%. Para honrar esses débitos com os abutres, a Argentina terá que tomar financiamento de US$ 20 bilhões no exterior, uma vez que as reservas internacionais do país estão em nível baixo, oscilando em torno de US$ 27 bilhões.
Assim como o presidente francês, François Hollande, fez em fevereiro, quando se reuniu com Macri, também Obama participou de uma cerimônia no Parque da Memória, em homenagem aos mortos e desparecidos nos chamados anos de chumbo. Desta vez, contudo, nenhuma organização social foi convidada ou participou do encontro. Muitas, ao contrário, criticaram duramente o fato de Obama participar dessas homenagens.
A líder das Mães da Praça de Maio, Linha Fundadora, Nora Cortiñas, disse que a visita de Obama nessa data era “uma provocação e um despropósito de Macri”. E a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, seguiu na mesma linha:
“Não é o momento para estarmos em um lugar assim [o Parque da Memória], lembrando 40 anos de algo tão atroz e repleto de dor”, disse Estela em relação à presença do presidente americano. Ainda assim, ela reconheceu a boa intenção da Casa Branca ao anunciar a decisão de abrir os arquivos militares e de inteligência relativos aos anos da ditadura militar.
Apesar do gigantesco aparato de segurança montado em Buenos Aires, desde segunda-feira diversas manifestações têm tomado as ruas da capital. Organismos de direitos humanos, sindicatos e diversas entidades marcharam em movimentos como o Memória, Verdade e Justiça, #NuncaMás, e ao som de palavras de ordem, como nos protestos desta quinta-feira, 24, quando os manifestantes cantavam “Ole, ole, ole, ola. / Yo no soy yanqui, ni quiero ser. / Yo voy com Chávez, / Voy con Evo y con Fidel”.