Ao explicar a quem assistia a tradicional manifestação o motivo de sua presença no ato, os brasileiros entregavam um texto intitulado “Não ao golpe no Brasil” contextualizando a situação. “A FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo), que financiou a campanha a favor deste golpe diz que ‘não paga o pato’ – mas o que ela pretende é que sejam os trabalhadores brasileiros a ‘pagarem o pato’ da crise econômica mundial, que também atinge o Brasil”, diz o panfleto.
“Em Portugal ou no Brasil, sempre em defesa dos valores de abril”, gritavam os manifestantes brasileiros, acompanhados por alguns portugueses, em referência ao 25 de abril, data da Revolução dos Cravos que pôs fim à ditadura de Marcelo Caetano em Portugal. O vice-presidente brasileiro Michel Temer foi chamado de golpista em cartazes e gritos de guerra: “Temer, golpista, não passará”, foi outro grito ouvido.
A mobilização começou antes da marcha. No Largo do Intendente, perto dali, os brasileiros se concentraram junto ao evento PrecFest, uma feira realizada anualmente para denunciar o trabalho precário em Portugal. No local, o cantor brasileiro Fery Nery cantou clássicos da MPB e Bianca Ribeiro declamou poesias sociais.
As manifestações de brasileiros denunciando um golpe no Brasil tornaram-se frequentes na capital portuguesa. Essa foi a sexta. Os protestos foram organizados pelas redes sociais e juntaram pessoas simpáticas às mesmas causas. Alguns deles se uniram e criaram o Coletivo Andorinha. Igor d’Angelis, estudante de doutorado, é um dos braços desse coletivo. Ele conta que o grupo continuará organizado independente do que acontecer para defender a democracia brasileira.
Igor e os colegas do coletivo comemoram a receptividade dos movimentos sociais locais. No dia 25 de abril, eles marcharam junto com a Casa do Brasil na manifestação realizada na Avenida da Liberdade. Dessa fez, foram convidados pelos organizadores da PrecFest para se juntar a eles.
A professora brasileira Gabriela Antunes, que mora e trabalha em Portugal, soube que também havia gente disposta a contestar o impeachment após uma busca na internet. “Eu estava me sentindo isolada”, diz Gabriela, ao lembrar que há algumas semanas só sabia da realização de manifestação pró-impeachment em Lisboa. Ela teve acesso a uma entrevista de um dos integrantes do coletivo e entrou em contato pelas redes sociais. Resultou que neste 1º de maio, ela segurava a bandeira brasileira à frente da faixa “golpe nunca mais” na marcha. “Eu sentia mais a solidariedade dos meus amigos estrangeiros”, lembra Gabriela, enquanto segue caminhando com a bandeira brasileira.