Trabalho, muito e árduo trabalho. É disso que Michel Temer e sua equipe vão precisar ao longo deste seu Governo que poderá ser interino (conforme vem sendo chamado) ou se tornar definitivo até 31 de dezembro de 2018, se assim o Senado entender quando julgar a Presidenta Dilma Rousseff, afastada na mesma quinta-feira, 12, por responder a processo de impeachment pela acusação de crime de responsabilidade.
Isto se não sobrevierem novos fatos jurídicos e políticos. O próprio Temer está igualmente ameaçado de sofrer o mesmo processo de impeachment, e tanto ele quanto Dilma respondem a quatro processos no Tribunal Superior Eleitoral, os quais visam a anular a eleição de ambos em outubro de 2014, sob alegação de que dinheiro de origem ilícita abasteceu a campanha presidencial.
Temer sabe que não pode errar, que não tem tempo para errar e que não terá uma segunda chance se o seu plano de trabalho falhar. Suas metas iniciais, como ratificou na primeira reunião ministerial que comandou nesta sexta-feira, 13, são: recuperar a credibilidade do Brasil e a economia nacional, incentivar os investimentos do capital privado de modo a reduzir sensivelmente o quadro atual de 11 milhões de desempregados no país e permitir que a atividade econômica volte a ser produtiva, de modo a gerar bem-estar social.
O ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), disse à mídia que a prioridade do Governo Temer é desenvolver o país, gerar empregos e ter uma base política forte. A ênfase colocada pelo ministro na expressão “base política forte” revela que Temer não repetirá o erro político fatal de Dilma, ignorar o Congresso Nacional e não ter paciência para fazer e executar o necessário jogo político.
Isto é inevitável num país que se deu ao luxo de criar a estranha figura do “presidencialismo de coalizão”. Na prática, “presidencialismo de coalizão” significa que todos devem falar e todos devem ser ouvidos. Se serão todos acatados, é questão para discutir com os políticos profissionais, as raposas que dominam o cenário político há muitos anos. São raposas mestres na arte de fazer política à brasileira.
Temer sabe que terá de enfrentar uma vigorosa oposição do PT e da base aliada de Dilma, o barulho dos movimentos sociais, as acusações de ser conspirador e golpista que lhe foram atribuídas por sua companheira de chapa e, sobretudo, a desconfiança de uma nação e o descrédito generalizado na classe política.
Talvez seja esta uma das principais preocupações de Temer, a de demonstrar ao país e ao mundo que, ao assumir a Presidência da República, o Brasil não trocou seis por meia dúzia.
Político ultraexperiente, ex-presidente da Câmara dos Deputados, professor de Direito Constitucional, Michel Temer sabe, como poucos, que política no Brasil é a arte do possível. Mas, para ele, neste momento crucial, o que é preciso ser feito para recuperar o país vai além do possível. Tange mesmo o impossível.