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Ex-titular da Cultura diz que mudar ministério para secretaria só vai agravar problemas

ENTREVISTA COM ANA DE HOLANDA 2 DE 20 05 16
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As manifestações contra a decisão do governo Temer de transformar o Ministério da Cultura (MinC) em secretaria e subordiná-lo ao Ministério da Educação continuam repercutindo em todo o país.

Nesta sexta-feira, manifestantes, artistas e produtores culturais ocupavam prédios da Fundação Nacional das Artes (Funarte) e do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 17 capitais e no Distrito Federal. Com shows, faixas de protestos, inscrições em muros e palavras de ordem, os manifestantes tomam conta de prédios em Natal, Cuiabá, Belo Horizonte, São Luis, Brasília, Aracaju, São Paulo, Rio de Janeiro, João Pessoa, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Macapá, Maceió, Florianópolis, Porto Alegre e Recife. Após diversas tentativas, sem sucesso, de convidar personalidades femininas conhecidas em todo o país para assumir a secretaria, o governo indicou, na quinta-feira, 19, o secretário municipal de Cultura do Rio, Marcelo Calero, que aceitou o cargo, prometendo desenvolver um trabalho de diversidade à frente da pasta.

Em entrevista exclusiva à Sputnik, a ex-ministra de Cultura Ana de Holanda, que ocupou o ministério na gestão Dilma de janeiro de 2011 a setembro de 2012, se mostra contrária à transformação do MinC e teme que, sob a alçada do Ministério da Educação, ele não consiga dar o apoio necesário que vinha prestando às diversas manifestações culturais no Brasil e no exterior.

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"O fato é que o ministério cresceu barbaramente. Além da experiência como ministra, trabalhei em muitos órgãos federais também, inclusive na gestão do Lula de 2003 a 2007. Acompanhei a reconstrução do ministério em 2003 com Gilberto Gil, que veio com uma equipe excelente. Na Funarte, eu dirigia a área de música, responsável pela política musical dentro do Ministério da Cultura. O ministério tem uma capilaridade de assuntos e linguagens que é muito diferente da educação. A educação tem áreas muito fortes, grandes para o Brasil todo, da básica à superior, mas não tão variadas como a cultura."

Segundo Ana, o MinC tem que atender ao patrimônio material, imaterial e a uma diversidade étnica como até a dos índios, "que têm uma linguagem, uma cultura importantíssima em nível de pesquisa científica para descobrir plantas medicinais e decodificação das línguas para se conhecer melhor a cultura da civilização brasileira". 

"(Com o MinC) tudo cresceu barbaridade: cinema, música, literatura e a internet, que tem que ser bem tratada, como direitos autorais, as áreas específicas. Tem museus que eram ligados diretamente ao ministério. Tem que ter órgãos com muita agilidade para trabalhar essa capilaridade de assuntos. Acho que não vai ter braços para fazer o que foi feito, e não vou falar da última gestão que acho que foi muito fraca. Quando estávamos lá e no período do Gil fizemos eventos que pegaram cinco países da Europa, em 2011 e 2012, um milhão de visitantes, mais de 1.600 artistas e grupos de teatro, música, dança, artes plásticas. Isso deu uma imagem muito positiva do Brasil, que é muito conhecido pelo futebol e pela criatividade das artes e da arquitetura. Um só braço do Ministério da Educação para cuidar de toda essa variedade de assuntos acho quase impossível. Pode ter sido no passado, quando era muito pequeno."

Ana lembra também que o sistema Nacional de Cultura tem um diálogo permanente com os municípios. 

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"Antes dos anos 80 era uma política clientelista: chega quem conhece alguém lá e quem não conhece não chega e pronto."

Quanto à repercussão que a mudança está provocando, a ex-ministra reconhece que as manifestações são mais do que válidas, mas diz que há outras questões importantes no momento que também merecem ampla mobilização popular.

"Acho que há outros assuntos mais graves para fazer barulho. Se for para gritar, e eu grito também, estou mais preocupada com a questão da DRU (Desvinculação de Receitas da União), que vai afetar a área da saúde, da educação também, a área previdenciária. Com os programas sociais tinha que se gritar muito mais. Claro que sou a favor do Ministério da Cultura. A economia (com extinção do ministério) é muito pequena, pois o ministério já está com um orçamento muito abaixo do ideal. Não é acabando com ele que ia se resolver a questão econômica. O impacto foi tirar a Dilma. Conheço bem o ministério e sei que as necessidades não vão ser atendidas se ele for um braço da Educação." 

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