A senadora do Partido dos Trabalhadores diz ainda “lamentar o que este Governo está representando para a população, em termos de contradições e de negativa das próprias ações”.
Gleisi Hoffmann também conta que a Presidente Dilma Rousseff está acompanhando com serenidade, porém com tristeza, tudo que está acontecendo no país, cada vez mais convicta de que foi e está sendo vítima de um golpe “cujo único objetivo foi o de afastá-la do poder”.
Ainda de acordo com a Senadora Gleisi Hoffmann, Dilma Rousseff e seu advogado, o ex-ministro da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, estão trabalhando na redação final de sua defesa, que terá de ser entregue ao Senado Federal até 30 de maio, quando vence o prazo para a apresentação do documento.
A seguir, a entrevista exclusiva com a Senadora Gleisi Hoffmann.
Sputnik: Como a senhora está observando esses primeiros dias do Governo Michel Temer?
Gleisi Hoffmann: Desastrosos. Aliás, como nós prevíamos. Dizíamos que não havia condições de o vice-presidente fazer um governo, não tinha condições programáticas nem as condições morais que tanto requeriam da Presidenta Dilma. O que nós tivemos nessas últimas semanas de ações do Governo mostra bem que ele não está preparado para governar o Brasil. Primeiro nas idas e vindas sobre criação e redução de ministérios; depois em entrevistas desastrosas de seus ministros falando contra programas sociais; ontem, a situação de um dos ministros mais importantes do Governo, que era o ministro do Planejamento, Senador Romero Jucá, em flagrante numa gravação, dizendo que o impeachment era necessário para parar a Operação Lava Jato; e, na terça-feira, a divulgação, pelo presidente interino Michel Temer, das propostas de ajustes que se pretende fazer no orçamento público, ajustes que tiram direitos dos trabalhadores, ajustes que ferem programas sociais, ou seja, não demonstrando nenhuma preocupação com a maioria do povo brasileiro, que ainda é uma maioria pobre.
S: A senhora esteve com a presidente na segunda-feira. Como a senhora observou o estado de ânimo da presidente, como a senhora observou a reação da Presidente Dilma Rousseff ante a divulgação da transcrição das conversas entre o Senador Romero Jucá e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado?
GH: Ela disse que está se cumprindo aquilo que nós já prevíamos, que nós já sabíamos, que por trás desse processo de impeachment, que sempre chamamos de golpe, intenções outras que não a de afastá-la por crime de responsabilidade contra o orçamento público ou contra a responsabilidade fiscal, mas que era exatamente isso: mudar o programa que foi eleito nas urnas em 2014 e tentar barrar a Operação Lava Jato. A presidente está triste com tudo que aconteceu, mas serena ao mesmo tempo, e vai aguardar a nossa discussão na Comissão do Impeachment no Senado e a forma como nós vamos trabalhar aqui para defendê-la e defender a democracia.
S: A presidente tem até a próxima terça-feira, dia 31, para apresentar a sua defesa perante a Comissão do Impeachment. A presidente já a redigiu, já está esboçada como será a sua defesa?
GH: Não totalmente. Hoje tivemos uma reunião com o ex-Ministro José Eduardo Cardozo, que é advogado da presidenta. Ele está terminando a redação da defesa, vai reforçar pontos que já foram levantados num primeiro momento, e vamos pedir mais diligências que não foram concedidas nessa primeira fase, nós vamos voltar a pedir agora.
S: Na semana passada a senhora estava no exterior, mas certamente tomou conhecimento de que a Ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, encaminhou para o conhecimento da Presidente Dilma Rousseff o questionamento de alguns parlamentares, perguntando por que ela considera impeachment como golpe, e a ministra deu ciência à presidente de que ela não é obrigada a responder a esse questionamento, as respostas serão facultativas. A senhora sabe se a presidente vai responder a essas questões?
GH: Não sei, não conversei com ela sobre isso, mas se eu estivesse no lugar dela eu mandaria a edição do jornal “Folha de S. Paulo” de ontem. Acho que responde objetivamente por que nós dizemos que é golpe.
S: Gostaria que a senhora falasse sobre aquilo que vem sendo trabalhado no atual governo interino do Presidente Michel Temer, sobre uma certa flexibilização das leis do trabalho. Fala-se até numa possível “prevalência do acordado sobre o legislado”, ou seja, acordos entre empregadores e empregados teriam maior valor do que aquilo que está disposto em lei. Como a senhora está acompanhando isso? E a Presidente Dilma Rousseff, como tem observado essa movimentação?
GH: Nós somos contra isso. Na realidade, essa situação fragiliza o lado do trabalhador, até porque vem na complementação de um discurso ruim por parte do Governo e de setores da sociedade, de que numa crise econômica é mais importante o emprego do que os direitos trabalhistas decorrentes dele. Acho que isso é muito ruim. Se nós abrirmos mão da CLT, com certeza quem vai sofrer mais serão os trabalhadores. Isso não vai resultar em melhoria da economia, em produtividade. Pode resultar em aumento de lucratividade de empresas e na retirada de direitos de trabalhadores.
S: No tempo em que a senhora chefiava a Casa Civil da Presidente Dilma Rousseff certamente já se discutia a questão da reforma da Previdência Social, mas se discutia nos termos em que está sendo discutida hoje?
GH: Não. Nós nunca fizemos uma discussão mais aprofundada. Essa discussão é mais recente, do último ano, em que a presidenta deve ter se aprofundado. E agora, com a entrada do Governo interino, eu creio que essa proposta ficará muito pior, porque, além da idade mínima que não considera sexo, é igual para homem e mulher, também não considera tipo de trabalho, se é um trabalho braçal, se é um trabalho intelectual. Nós ainda estamos assistindo a que querem desvincular o salário-mínimo dos benefícios previdenciários. É muito triste para uma sociedade que há pouco conquistou direitos importantes de proteção social.