"A base na Tríplice Fronteira é uma projeção sobre o aquífero Guarani, a terceira maior reserva de água doce do mundo. Obviamente, os interesses ‘científicos’ dos EUA em instalar essas bases se efetiva na realidade no campo geopolítico. Eles correram para fazer o acordo com Macri tão logo tomou posse porque, assim como no caso brasileiro, não querem correr risco de recuo", continua o professor.
A referência aos interesses "científicos" diz respeito ao argumento apresentado pelos governos Macri e Obama para justificar as bases dos EUA em pontos de interesse estratégico vital para as nações do Cone Sul.
“É espantoso que justamente um governo argentino tome essa iniciativa em favor da ingerência norte-americana no Cone Sul quando foram os EUA, na única guerra em que a Argentina se envolveu do século XX para cá, a Guerra das Malvinas, que colocaram toda a sua infraestrutura de informação a favor do inimigo que saiu vitoriosos, a Inglaterra. Talvez Macri, por ser relativamente jovem, tenha se esquecido disso. Duvido, porém, que o subconsciente coletivo do povo argentino também tenha se esquecido”, prossegue Assis, atribuindo ao atual governo argentino uma “combinação de ideologia subserviente com ilusão de ganhos econômicos”.
Na semana passada, uma matéria do diário argentino Integración Nacional já ventilava a mesma opinião, expressa em palavras de Elsa Bruzzone, especialista em geopolítica, estratégia e defesa nacional e integrante do Centro de Militantes para a Democracia Argentina (CEMIDA).
"Os EUA utilizam diversos pretextos, entre eles o de ‘ajuda humanitária’ e ‘apoio diante de catástrofes naturais’, para instalar bases militares disfarçadas de bases científicas. Estas bases encobertas eles sempre as instalam em zonas onde há recursos naturais altamente estratégicos: água, terra fértil para produção de alimentos, minerais, petróleo, biodiversidade", afirmou a analista argentina, em entrevista ao jornal.
Segundo Bruzzone, os EUA querem "fechar o cerco sobre todos os recursos naturais" da América.
"As bases militares, cobertas e encobertas, que instalaram na América Central e no Caribe, somadas às que possuem na Colômbia, no Peru, no Chile e no Paraguai, junto com a base militar da OTAN nas Malvinas mais o destacamento britânico nas Ilhas Georgias fecham o cerco sobre todos nossos recursos naturais e reafirmam sua presença na Antártida", acresentou.
Neste contexto, cabe lembrar que o Brasil, que compartilha mais de 1.200 km de fronteira com a Argentina, possui dois aquíferos subterrâneos de enorme importância: o Guarani e o Alter do Chão. Este último, aliás, é considerado o maior depósito de água potável do mundo, com 86 mil km³ de água doce.
Aquífero Alter do Chão, artigo de Roberto Naime https://t.co/9HzVcDGHQt pic.twitter.com/4s2lH7u4e3
— infonaturapt (@infonaturapt) 28 октября 2015 г.
Segundo afirma o professor Assis, “o governo Macri nos expõe à presença militar norte-americana de uma forma que cria desconforto em todo o Cone Sul”.
"A Argentina deverá escolher entre sua aliança estratégica com o Brasil, que lhe tem garantido sobrevivência econômica, e a condição de subordinada aos interesses de Washington. Se colocar os pesos na balança, verá que a aliança com o Brasil interessa mais. A não ser que confunda Brasil com José Serra!", conclui o texto.
O chanceler interino, aliás, já foi denunciado pelo WikiLeaks por negociar com interesses norte-americanos para mudar o regime de partilha do pré-sal e abrir as portas do setor à exploração de corporações estrangeiras.
Coincidência?