Em seu discurso de posse na quinta-feira, 19, José Serra afirmou que em sua gestão a Argentina será considerada parceira prioritária do Brasil na América do Sul, sem prejuízo das relações com os demais países do continente. No entanto, ele ressalvou em sua fala que as relações exteriores do Brasil passarão a ser tratadas como projeto de Estado e não de um partido político.
Para o argentino Eduardo Crespo, professor de Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a nova fase das relações Brasil-Argentina não pode ser vista como prejudicial ao Mercosul, uma vez que os dois Governos não abriram mão do relacionamento regional.
Crespo disse ainda, em entrevista à Sputnik Brasil, que a fala de José Serra deve ser interpretada como uma nova orientação da política externa brasileira, mas nada que venha a abalar as posições do Brasil diante dos demais países da América do Sul.
“Pelo que dá para ver pelas declarações, haveria entre os dois governos – ambos passando por momento difícil – algum tipo de coincidência de longo prazo com o que deveria ser feito com o Mercosul, eventualmente, uma aproximação com os Estados Unidos”, observou Eduardo Crespo.
Por enquanto, porém, acentua o especialista da UFRJ, são simples declarações:
“Ontem [segunda-feira, 23], assinaram um memorando de entendimento, de combinação política. Haveria áreas de intercâmbio na ciência, na tecnologia, etc., mas, na verdade, dada a situação nos dois lados, uma situação de crises econômicas, crise política, crescente contestação, eu acho que simplesmente são declarações diplomáticas. Não sei se vai haver muita coisa por trás disso.”
Sobre a hipótese de essa reaproximação Brasil-Argentina poder representar algum prejuízo para o Mercosul, Eduardo Crespo explica:
“Aparentemente a ideia, pelo que dá para acompanhar por essas declarações, seria tentar que o Mercosul se aproximasse, em um consenso, com o Acordo do Pacífico, com os Estados Unidos e com os países da área do Pacífico, com algum tipo de acordo de livre comércio. Alguma coisa desse tipo, é o que pareceria. Na verdade, é a primeira viagem de José Serra como ministro, que ontem teve que voltar com urgência, aparentemente pela crise política gerada pelas gravações de Romero Jucá.”
O professor da UFRJ acrescenta que “o Governo argentino também teve muita contestação em alguns setores da mídia, que questionavam como a Casa Rosada poderia reconhecer um Governo brasileiro que seria teoricamente ilegítimo. Acho que se há algum tipo de direção é apenas o início de um processo que não sabemos para onde vai, porque a situação é muito incerta, o grau de incerteza com o que pode acontecer aqui ou lá é muito grande.”