Proposta neste sentido foi apresentada pelo secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, que deseja discutir o assunto com os países afiliados. A decisão atende a um pleito da maioria de oposição que agora domina a Assembleia Nacional, que tenta convocar um plebiscito para retirar Maduro do poder. O presidente venezuelano tem reagido, alegando que a decisão da OEA é mais uma faceta da tentativa de governos estrangeiros de tentar desestabilizar e isola ro país da comunidade internacional. Na noite da última segunda-feira, em encontro com militares da reserva que apoiam o governo, Maduro conclamou o povo a levantar um movimento de defesa "da paz, da independência e contra o intervencionismo estrangeiro".
O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ) Fernando Brancoli diz que, embora simbólica, uma eventual suspensão da Venezuela do bloco da OEA isolaria ainda mais o país.
"Se a cláusula for aprovada, é um claro indício que os membros da OEA — que compõem países que até então eram aliados da Venezuela, como o próprio Brasil e Argentina — acreditam que o que está acontecendo agora é um processo de disrupção democrática."
Segundo o especialista, a argumentação de que o país sofre atos de interferência estrangeira não é nova, e vem desde a época do presidente Hugo Chávez.
"A Venezuela tem utilizado o argumento de que forças internacionais tentam desestabilizar o governo, e isso efetivamente se comprovou na tentativa de golpe contra o Chávez, mas me parece que nesse momento não se trata de uma tentativa de destruir a Venezuela ou algo parecido. Parece uma preocupação sincera dos países da região com o que está acontecendo por lá. Essa preocupação vem a reboque de uma movimentação mais conservadora. Não conseguiríamos pensar em uma manifestação tão forte se não tivéssemos na Argentina o governo do Macri, bem menos próximo, para dizer o mínimo, do governo venezuelano do que era sua antecessora presidente Cristina Kirchner."
Para o professor da UFRJ, esse processo de instabilidade no país faz parte da disputa política e de um esquema de proteção no qual Maduro procura argumentar sempre que essas ações são na verdade para desestabilizar o país.
Brancoli lembra ainda que a OEA faz três grandes recomendações ao governo venezuelano. Na primeira, pede a realização de um referendo para que a população se posicione a respeito de novas eleições; pede também a libertação dos presos políticos; e, por fim, a modificação da Suprema Corte que, segundo a OEA, estaria controlada pelo Executivo e não garantiria uuma independência judiciária que pudesse controlar o outro poder.
"A OEA não tem capacidade de obrigar a Venezuela a fazer esses tipos de modificações, mas sim de apontar mapas do caminho para uma normalização. Apesar de a Organização ter sido esse agente mais vocal a respeito da crise, há movimentações de outros países acontecendo ao mesmo tempo. O próprio Brasil e a Argentina têm se movimentado diplomaticamente na tentativa de diminuir as tensões por lá."