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Para consultor, autonomia da Polícia Federal será prova de fogo para governo Temer

ENTREVISTA COM CAIO MANHANELLI 2 DE 01 06 16
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O indiciamento do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, e mais nove executivos pela Polícia Federal na Operação Zelotes que investiga a compra de decisões no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) apanhou muitos analistas de surpresa. Eles agora se questionam o quanto a Polícia Federal terá de autonomia para continuar o trabalho.

 Em nota oficial o Bradesco nega todas as acusações que incluem tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Na nota, o Bradesco também nega ter contratado qualquer empresa para intermediar negociações visando à liberação de multas no âmbito do Carf e recorda que seus recursos, contestando o valor, foram rejeitados pelo placar de seis a zero. Uma das atribuições do Carf é justamente julgar as multas aplicadas pela Receita Federal a empresas e contribuintes, podendo reduzir as cifras e mesmo arquivar os processos. Já em relatório de 2015,  Polícia Federal apontava que pessoas ligadas a empresas e contribuintes tentavam manipular essas decisões.

O diretor da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP) para a capital paulista, Caio Manhanelli, diz que a grande prova de fogo do governo Temer será justamente o de demonstrar com ações que as autoridades continuam empenhadas em dar apoio às investigações da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário quer seja no âmbio da Operação Zelotes, da Operação Lava Jato e de outras iniciativas de combate à corrupção.

"A gente está falando do Bradesco, do Safra, da RBS  (afiliada à Rede Globo), Bank Boston entre outras empresas como a Ford e a Mitsubishi e o próprio Partido Progressista envolvidos nesta operação em específico."

Sobre a autonomia que a Polícia Federal terá daqui para a frente, Manhanelli afirma que o poder do Judiciário no mundo tem se legitimado e politizado cada dia mais. 

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"Dentre os países da América Latina como um todo, o Brasil é o país que tem o Poder Judiciário mais legitimado pela população em relação a seus países vizinhos. No Paraguai, o Poder Judiciário tem um baixo índice de credibilidade, no Equador igualmente, na Colômbia também. Nenhum deles tem esse poder de ascensão à política."

O diretor da ABCOP lembra que o debate sobre a politização do Judiciário vem desde 1996 na Itália, quando houve um grande seminário que discutiu esse superapoderamento do Judiciário a partir de argumentos como o protegonismo de seus expoentes.

"O problema é: essas investigações e essa autonomia da Polícia Federal estão diretamente ligadas à forma e à quantidade de divulgação das ações da PF. Quanto mais se divulga o que a Polícia Federal faz mais legítima ela está e mais autonomia ela tem. Quem vai divulgar o que está acontecendo agora? Lembrando que o Bradesco, o Safra, a Ford, o Mitsubishi, o Santander, a própria Rede Globo (a RBS) são grande copatrocinadores midiáticos. A pergunta que fica é: se a Polícia Federal vai ter essa autonomia, ela depende justamente do amparo da "sociedade", da opinião pública. Se a PF vai ter esse apoio dos canais de comunicação, em especial os massivos, em repercutir suas ações."

Segndo Manhanelli, os canais de comunicação também buscam legitimidade e isenção quando transmitem as notícias. 

"Quando há manipulação é na seleção de que notícias vão passar. Se nessa seleção no Jornal Nacional ou na Folha de S.Paulo vão passar as notícias de que a Polícia Federal está investigando o Banco Bradesco e indiciando fulano, beltrano e sicrano. Depende desse jogo de interesses a autonomia do Judiciário especialmente em sua primeira perna que seria a polícia investigativa, a Polícia Federal. Outra questão é a politização do Judiciário, o quanto o governo Temer, que está sendo acusado de querer manipular o Juidicário, vai de fato influir nas vontades dos juízes, seja o Moro, os juízes do STF ou de que vara sejam, na vontade de que continuem investigando.

Manhanelli se questiona quantas negociações ainda vão acontecer e quanto interesse vai ser negociado nesse momento de prosseguimento da Operação Lava Jato. O consultor lembra que logo  após a divulgação da chamada telefônica entre Lula e Dilma surgiu uma lista da Odebrecht com nomes onde não constava nem os nomes de Lula ou de Dilma, mas o de vários políticos envolvidos  com a empresa. 

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"Com a divulgação da lista, a resposta de Sérgio Moro foi: por favor queremos sigilo em todas as provas do caso Lava Jato. Até agora não foi outorgado esse pedido, porque continuamos a ver provas da Lava Jato serem divulgadas pelos canais de televisão, de comunicação em geral. O próprio Moro fala: espera aí, eu estava divulgando, mas não quero mais divulgar porque agora está atingindo o grupo que eu defendo e tenho interesses. Nesse momento, Moro deixou um pouco claro e perdeu um pouquinho a legitimidade na cabeça desse processo. Podia ter mantido a legitimidade se não tivesse feito esse pedido, mas quando ele o faz vem parte da mídia e fala: isso aí é censura. Até ontem a gente podia. E agora porque não pode mais? A gente quer continuar acompanhando."

Com relação ao papel da mídia nesse tipo de cobertura, Manhanelli acredita que é um panorama difícil para se alcançar a isenção necessária.

"Os jornalistas querem notícia para ter consumo de suas matérias e assim o jornal vai ter como vender publicidade. E aí a gente vê o jogo de interesses se armando. Para quem o jornal vende publicidade? Para o Bradesco, para o Santander. É um ciclo complicado. Como um jornal, que é sustentado pela Ford e pela Mitsubishi, vai publicar assuntos sobre uma operação que está sendo feito para investigar esquemas de corrupção onde a Ford e a Mitsubishi estão envolvidas?" 

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