Em entrevista exclusiva para a Sputnik, a Historiadora e Diretora Executiva do Museu da Imigração de São Paulo, Marília Bonas falou sobre a importância histórica da instituição no Brasil.
Segundo Marília Bonas, o Museu da Imigração está sediado no antigo edifício da Hospedaria de Imigrantes no Braz, em São Paulo, espaço que foi construído para acolher e encaminhar ao trabalho imigrantes que vieram em substituição a mão de obra escrava para trabalhar no café, principalmente, dentro de um grande projeto político-econômico e com questões raciais que ocupou o centro da discussão da história de São Paulo e do Brasil no final dos séculos XIX e XX.
“A hospedaria era um grande complexo com dormitórios, chuveiro elétrico, hospital para a recepção desses imigrantes. No Rio de Janeiro também tivemos a hospedaria Ilha das Flores, num modelo aproximado de incentivo a mão-de-obra imigrante no Brasil. Na década de 1990, esse complexo, tombado pelo Patrimônio Histórico, se transformou primeiro em um Centro de Documentação, e depois em um Museu, passando a contar a importância e a história da imigração internacional e da migração interna para o desenvolvimento do Brasil.”
Desde então, a historiadora destaca, que além de preservar e contar a história desses trabalhadores, o Museu da Imigração também ressalta a importância da diversidade cultural para a construção de um país mais igualitário e mais justo, que é apresentada em uma vasta programação cultural, incluindo trabalhos com as comunidades de imigrantes e descentes do estado de São Paulo.
“O Museu da Imigração tem uma programação muito intensa de exposições, de atividades educativas e culturais com mostras fixas e temporárias que contam sobre a cultura material da imigração, sobre a contribuição da diversidade no dia-a-dia das pessoas no Brasil, e também sobre a questão dos direitos dos imigrantes, que é uma das questões que estamos trabalhando muito forte.”
A diretora executiva do Museu da Imigração, ainda explicou que há um trabalho grande sendo feito com as novas comunidades de imigrantes como as do Senegal, Congo e latino-americanas, em parceria com ONGs e instâncias públicas e não públicas, que trabalham com a questão dos imigrantes.
Sobre a situação atual do imigrante no Brasil, já que o país vive em um novo momento no que diz respeito ao tema das imigrações internacionais, especialmente com a vinda dos haitianos e sírios, Marília Bonas disse que ainda há muito a se fazer no que diz respeito a legislação da imigração no Brasil.
“Toda a legislação ligada a imigração no Brasil ainda é da época da Ditadura. O imigrante ainda é visto como uma ameaça à soberania nacional. Essa legislação conhecida como Estatuto do Estrangeiro, de fato não corresponde já a posição do Brasil há anos em relação as questões da imigração, e ela traz grandes complicações no fundo para a vida de qualquer pessoas que quer migrar para cá ou que migra para cá por escolha, ou por falta de escolha. Os haitianos como é uma ação humanitária, dentro da legislação é uma exceção, assim como os sírios dentro do contexto dos refugiados, mas nós recebemos milhões de pessoas de vários lugares, e todos os estados do Brasil vem recebendo cada vez mais um número maior, principalmente de imigrantes africanos e da América Central e da América Latina, e é uma questão que precisa ser discutida, pois é fundamental combater a xenofobia, e mostrar que o Brasil, é um país construído por imigrantes, e que ele pode continuar sendo construído por imigrantes, e tem espaço para todo mundo.”
Para saber toda a programão deste fim de semana da 21ª Festa do Imigrante e mais informações sobre a instituição, acesse o site do Museu da Imigração de São Paulo.