Balanço divulgado na noite de quinta-feira, 9, pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), contabilizava protestos em 15 Estados na chamada Jornada Unitária, que rejeita mudanças na Previdência, na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), contra a extinção dos ministérios de Desenvolvimento Agrário e das Mulheres, do de Igualdade Racial e de Direitos Humanos, a fragilização do programa Minha Casa Minha Vida, do Programa de Aquisição de Alimentos, Bolsa Família, entre outros.
As mobilizações no interior estão centradas em ocupações de prédios da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e superintendências do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além de bloqueios em diversas estradas.Entre os movimentos que aderem às manifestações estão, além do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MTST), Via do Trabalho, Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), Frente Nacional de Lutas (FNL), Movimento Camponês Popular (MCP), Movimento Organizado dos Trabalhadores Urbanos (MOTU), Frente Sergipana Brasil Popular, Juventude Sem-Terra. Segundo os organizadores, manifestações aconteceram e ainda acontecem nos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Tocantins.
Em entrevista exclusiva à Sputnik, Gilmar Mauro, um dos coordenadores nacionais do MST, lembra que as mobilizações nacionais que ocorrem desde o meio da semana foram puxadas por movimentos do campo contra cortes de recursos nas diferentes áreas, da reforma agrária ao próprio ministério da área, além de cortes em áreas prioritárias como saúde e educação.
"Essa é a radicalização de um projeto neoliberal que está sendo aplicado pelo governo impostor Temer. Primeiro porque não tem legitimidade para isso e segundo porque esse foi o programa derrotado nas eleições. Hoje acontecem atos nas capitais e nas principais cidades de todo o Brasil com a principal bandeira do "Fora Temer". Não aceitamos, não reconhecemos e mais do que não aceitar e não reconhecer essa é uma demonstração popular contrária às medidas que estão sendo apresentadas por esse governo impostor. Esse governo impostor não vai ter um minuto de trégua de nossa parte e dos movimentos populares."
Gilmar acredita que as manifestações desta sexta-feira em todo o país vão se repetir, se estendendo não só durante este mês, mas prosseguindo em julho e mesmo durante a realização das próprias Olimpíadas.
Com relação à notícia de que o Ministério das Cidades vai baixar portaria com novas regras de seleção para o programa Minha Casa Minha Vida, vedando ampliação de recursos a entidades ligadas ao MTST e ao FNL, o coordenador do MST diz que, nem técnica, nem politicamente deveria haver esse tipo de descriminação.
"Afinal estávamos vivendo em um estado democrático de direito, e não estamos mais porque a Constituição foi rasgada. Quando se rasga uma Constituição não se rasga apenas os capítulos que defendem a propriedade, rasga-se na sua totalidade. Os movimentos populares têm o direito à desobediência civil e é o que vamos fazer nos próximos dias."
"O que está em curso no Brasil — e a população deve compreender — é que, sob o argumento de privilégios, de recursos para entidades, está se processando um brutal ajuste cujo interesse é garantir dinheiro do orçamento público para pagar os juros e para beneficiar o capital financeiro. A própria reforma da Previdência que está se propondo com cortes de direitos nada mais é do que a intenção do governo de impedir que os investimentos públicos se deem na área social. A própria saúde provavelmente enfrentará um corte de orçamento, o que vai criar um monte de problemas para a população, já que o desemprego e a crise ecconômica que estão em curso são muito graves. Esses cortes de recursos vão beneficiar única e exclusivamente o capital financeiro."