Na terça-feira, 14, em Brasília, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, recebeu Henrique Capriles, um dos principais políticos oposicionistas ao governo do presidente Nicolás Maduro. Do encontro, participaram ainda senadores da base de apoio do governo interino, como Aécio Neves (PSDB-MG), Ronaldo Caiado (DEM-GO) e José Agripino Maia (DEM-RN). Mais tarde, Aécio e Caiado foram recebidos em audiência pelo presidente em exercício Michel Temer a quem relataram as conversas com Capriles. Segundo eles, o político venezuelano pediu que o governo brasileiro se posicione internacionalmente a favor do referendo que se encontra em aprovação na Venezuela para destituição de Maduro.
Após reunião com Capriles, Serra afirmou que o Brasil tem uma política clara de não intervenção em assuntos internos de outros países, mas não pode ficar indiferente a qualquer tipo de atropelo a democracia, de desrespeito aos direitos humanos e às carências que afligem os venezuelanos.
"Estamos dispostos a cooperar para todo e qualquer entendimento democrático que tire este país, vizinho e amigo, da situação em que se encontra", afirmou Serra.
O professor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília (UCB) Creomar de Souza vê a nova postura do governo brasileiro em relação à Venezuela como um alinhamento.
"O que o governo tem tentando fazer nesse período de interinidade, em um primeiro momento, foi reforçar junto a seus vizinhos o seu grau de legitimidade. A resposta inicial de Serra em relação às críticas, derivadas sobretudo daquele eixo bolivariano, tiveram um sentido muito claro de dizer que o governo assumia dentro de uma prerrogativa legal e que as críticas de âmbito político jamais poderiam contaminar o ambiente institucional brasileiro."
O professor da UCB diz que o governo agora coloca uma perspectiva de assumir uma posição que não é partidarizada dentro da crise venezuelana, sobretudo no que diz respeito à assunção do discurso. Segundo Creomar, sai do discurso brasileiro a crítica contumaz ao regime venezuelano e se coloca um novo padrão muito próximo do que a diplomacia brasileira hiostoricamente faz, que é de dizer que o povo venezuelano é amigo do povo brasileiro, e nesse sentido o Brasil se oferece para ser um elemento de solução da crise ou de amenização das dificuldades que o povo tem passado. A proposta da dilomacia brasileira passa a ser, então, de um agente que possa auxiliar na distribuição de medicamentos, alimentos e outros gêneros que hoje são bastante carentes na sociedade venezuelana.
"Os senadores do PSDB tentam pontuar um novo posicionamento do governo brasileiro em relação à Venezuela que é muito crítico ao governo do Maduro. A administração do Executivo federal tem que fazer essa ação com extrema cautela, porque as relações internacionais se perpetuam no tempo. A relação diplomática existirá entre Brasil e Venezuela independente de quem seja o governo de lá ou de cá. Por isso tenta-se dialogar um pouco mais como questão de responsabilidade política e humanitária."
Segundo o professor, um diferença fundamental deste governo para o anterior é o fato de que se assumiu pela primeira vez a possibilidade de visita de um líder da oposição ao Estado brasileiro.
"Ele foi recebido pelo chanceler que conversou com ele acerca de conjuntura. Anteriormente isso não aconteceria."