Dilma reafirmou sua honestidade pessoal e no exercício do cargo, admitiu ter cometido erros ao longo do seu mandato, falou de sua lealdade aos companheiros do Partido dos Trabalhadores e à sua base aliada, disse estar sendo vítima de chantagem política e frisou que há um sério risco para a democracia no país com a deflagração do seu processo de impeachment. Esta última observação da presidente foi contestada por um ex-integrante do PT, o Senador Cristovam Buarque (PPS-DF), em entrevista à Sputnik Brasil:
“Não gostei das referências da Presidente Dilma Rousseff ao risco que o seu processo está representando para a democracia”, disse Cristovam Buarque. “Eu não vejo riscos para a democracia brasileira hoje. Dilma pode fazer críticas em relação ao que existe ao redor do presidente interino Michel Temer, a ministros que talvez não mereçam a confiança da população, pode fazer críticas de como o presidente interino Michel Temer vai conduzir as políticas sociais, mas, sinceramente, ameaças à democracia eu não vejo, e considero um erro ela ter falado isso.”
Quanto às chantagens de que Dilma Rousseff se declarou vítima por não ter mobilizado o PT a favor de Eduardo Cunha, Cristovam Buarque observou:
“Isto é de um simplismo absoluto. Penso que a presidente ainda não caiu na real de perceber que o impeachment decorre, sobretudo, dos erros que ela e seu Governo cometeram. Eduardo Cunha não tem o controle de dois terços dos deputados que votaram pela abertura do processo, e ainda menos dos 55 senadores que também votaram pela abertura do processo. Creio que a defesa de Dilma também falhou, pois deveria ter explicitado os erros cometidos pela presidente e explicar o que ela pretende fazer caso recupere o Governo.”
A aliada de primeira hora de Dilma Rousseff, Senadora Fátima Bezerra (PT-RN), acentuou a bravura da presidente:
“A carta que Dilma Rousseff enviou ao Senado Federal vai entrar para a História”, garante Fátima Bezerra. “A carta que a presidente encaminhou à Comissão do Impeachment e que foi lida pelo seu competente advogado, Dr. José Eduardo Cardozo, mostra a fibra, a força e a coragem de uma mulher honesta, que não tem o que temer e que manterá a cabeça erguida para resistir e se opor aos que tentam dar um golpe na nossa jovem democracia, através desse pedido de impeachment sem embasamento e sem fundamentação do ponto de vista jurídico. A presidente, mais uma vez, usando de muita clareza, objetividade, sabedoria e lucidez política, deixou claro que não cometeu crime de responsabilidade nenhum, que nunca agiu em benefício próprio no exercício da Presidência. A carta dela eu definiria com a seguinte frase: ela representa a convicção dos inocentes.”
Já o Senador Paulo Bauer (PSDB-SC) tem opinião completamente diversa:
“A Sra. Dilma Rousseff está absolutamente equivocada e faltando com a verdade ao registrar que o processo de impeachment faz com que a democracia no Brasil corra riscos. A democracia não corre qualquer risco, porque está consolidada no Brasil. A Constituição está sendo respeitada, o processo de impeachment está acontecendo dentro das normas judiciais, e por isso as instituições muito sólidas do nosso país estão preservadas. O julgamento da presidente em nenhum momento vai colocar em risco a nossa história democrática, que está absolutamente consolidada.”
Por sua vez, o Senador Paulo Paim (PT-RS) tem plena convicção de que a Presidente Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade e por isso merece ser absolvida no processo de impeachment:
“Na carta que enviou ao Senado, a presidente reafirmou a sua inocência e deixou bem claro que não cometeu nenhum crime de responsabilidade. Dilma tornou a destacar que todos os presidentes incidiram nas mesmas questões das quais elas está sendo acusada, e contra nenhum dos seus antecessores foi proposto processo de impeachment.”
“As acusações recaem até mesmo sobre o relator do processo de Dilma no Senado, o ex-governador de Minas Gerais Antônio Anastasia (PSDB-MG)”, acrescenta Paulo Paim. “Na carta enviada ao Senado e lida por seu advogado, José Eduardo Cardozo, Dilma Rousseff reafirma sua honestidade e faz uma conclamação às senadoras e aos senadores para que analisem friamente o processo e as suas próprias convicções para que se convençam da inocência da presidente e da improcedência das acusações que ela enfrenta.”
O julgamento em Plenário só deverá acontecer na última semana de agosto, a partir do dia 27, conforme antecipou o presidente da Casa, Renan Calheiros. Na próxima quarta-feira, 13, o Congresso entrará em recesso e os trabalhos no Parlamento só serão retomados no início de agosto. Renan Calheiros também assegurou que durante o período de realização das Olimpíadas do Rio (5 a 21 de agosto) nenhuma etapa decisiva do processo de impeachment de Dilma Rousseff avançará no Senado.