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‘Brasil não é alvo mas pode ser palco para o terrorismo em função da Rio 2016’

ENTREVISTA COM PAULO VELASCO E COM LINCOLN WERNECK
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Monitor online de ações terroristas SITEIntelGroup, que acompanha as páginas de jihadistas na internet, revela que um grupo de brasileiros declarou apoio ao líder do Daesh, Abu Bakr al-Baghdadi.

Esses brasileiros publicaram sua mensagem recorrendo a um canal no aplicativo Telegram. O canal tem o nome de Ansar al-Khilafah Brazil, segundo o SITEIntelGroup. Os brasileiros que aderiram ao autointitulado Estado Islâmico ainda postaram uma mensagem de total menosprezo pelo intercâmbio entre as autoridades brasileiras e francesas em relação ao acompanhamento das atividades do Daesh. A mensagem afirma: "Se a polícia francesa não pode impedir os ataques na França, então seu treinamento para a polícia brasileira não servirá."

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A diretora do SITEIntelGroup, Rita Katz, afirmou que “esta é a primeira vez em que um grupo da América do Sul declara apoio ao Estado Islâmico”. Na avaliação de Katz, esta constatação deve ser levada em conta pelas autoridades brasileiras, já que as Olimpíadas estão muito próximas, começando em 5 de agosto.  Além disso, as declarações de apoio foram prestadas pouco depois da abertura da versão em português do grupo Nashir para troca de informações sobre a organização terrorista. O Nashir também se utiliza do aplicativo Telegram, concorrente do WhatsApp.

Para o cientista político Paulo Velasco, da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e da Fundação Getúlio Vargas, os fatos captados pelo SITEIntelGroup não constituem qualquer surpresa. Estudioso das questões relacionadas ao terrorismo internacional, Paulo Velasco falou à Sputnik Brasil:

“Esta situação não chega a surpreender muito, tendo em vista que houve uma espécie de chamamento informal aos brasileiros por parte do Estado Islâmico [Daesh] para de alguma maneira se fidelizarem ao grupo e passarem a atuar em nome dele. Parece-me que encontrar brasileiros ligados ao Daesh ou pelo menos atuando em nome dele e jurando algum tipo de fidelidade já era algo esperado pela Inteligência brasileira, mas claro que suscita algumas preocupações adicionais. Vale fazer uma distinção entre ser alvo e ser palco.”

Paulo Velasco explica seu reciocínio:

“O Brasil não é propriamente um alvo para os terroristas – nunca fomos –, mas em função dos Jogos Olímpicos pode ser um palco ideal para algum ato terrorista. A partir daí as preocupações são muito bem fundamentadas. Outros países que terão delegações e autoridades no Brasil começaram a cobrar do nosso país algum tipo de cuidado maior, sobretudo em termos de prevenção, um trabalho de inteligência mais ativo, além, claro, de posicionar forças de segurança tanto militares quanto civis. Evidentemente que os trabalhos mais fundamentais feitos no plano da Inteligência são os do monitoramento da internet e das redes sociais.”

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Em relação à postagem "Se a polícia francesa não pode impedir os ataques na França, então seu treinamento para a polícia brasileira não servirá", Paulo Velasco concorda em que ela representa um autêntico desafio para as autoridades brasileiras:

“Sem dúvida alguma. A função desses atores é esta. Sejam eles ligados de fato ao Daesh ou não, porque temos que lembrar que há muita gente querendo surfar nessa onda e começando a querer aparecer de alguma maneira, ou dizendo-se vinculada ao grupo, para ganhar alguma notoriedade atuando de maneira a desafiar as grandes autoridades e ver até onde sua postura vai, ou testar os limites. Tem muito isso também. Muitos atos terroristas praticados mundo afora na verdade não são conduzidos ou organizados nem pelo Daesh nem pela Al-Qaeda, mas depois esses grupos acabam invocando o ataque e chamando para si a responsabilidade por ele, para mostrar que têm capacidade de agir de maneira ampla, em larga escala.”

Ainda de acordo com Paulo Velasco, as autoridades brasileiras precisam redobrar a atenção em relação às organizações extremistas ou mesmo aos chamados lobos solitários, que agem individualmente mas, de alguma forma, possuem alguma conexão com os grupos terroristas:

“Há motivos de preocupação, e as autoridades têm que ficar de olho. Uma das grandes preocupações, talvez a maior delas, não é a presença de alguma célula terrorista em território brasileiro ou de pessoas treinadas em algum campo de terroristas no mundo, mas os chamados lobos solitários. Estes são os que mais preocupam, porque podem ser brasileiros comuns, cidadãos comuns, que decidem, por algum motivo, praticar um ato de violência contra cidadãos com o simples prazer de criar o terror. Agindo solitariamente, o ‘lobo’ é muito mais difícil de ser rastreado e contido.”

Sputnik também conversou com um especialista em comunicações pela internet, o analista Lincoln Werneck, expert em Tecnologia da Informação. Werneck explica que as organizações terroristas recorrem a dois tipos de expedientes, a internet aberta, de uso universal, e a chamada Internet Profunda, ou Deep Web, na denominação em inglês:

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“A Internet Profunda, mais conhecida como Deep Web, é a internet à qual o cidadão comum não tem acesso. Ela só pode ser acessada através de ferramentas que, a partir da instalação no computador, trazem o navegador com uma configuração especial. Mas a Internet Profunda não é uma internet ruim. Ela tem coisas boas lá dentro, e é usada inclusive por jornalistas em países que sofrem o cerceamento da liberdade de expressão. Obviamente, vamos achar lá comunicações do Daesh e de seus simpatizantes ao redor do mundo.”

Lincoln Werneck também diz que muitas organizações criminosas recorrem a esse expediente:

“A utilização da Internet Profunda é muito comum entre os integrantes de organizações criminosas que exploram tráfico de drogas, contrabando de armas, exploração sexual. Mas a realidade é esta: assim como temos um submundo na vida real, a Deep Web tem seu submundo. Ela é usada tanto para o bem como para o mal, infelizmente. As forças policiais têm que se especializar, pesquisar, precisam ter ferramentas e equipamentos adequados. Tem que haver uma grande interação entre as polícias do mundo para que elas possam pesquisar e se infiltrar. Infelizmente, no Brasil não temos uma lei que permita que a autoridade policial se infiltre como um espião. Fora do Brasil isso já ocorre.”

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