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Glenn Greenwald denuncia 'fraude jornalística' da Folha a favor de Temer

© AFP 2023 / EVARISTO SAPresidente interno do Brasil Michel Temer durante a reunião no Palácio do Planalto, Brasil, 13 de julho de 2016
Presidente interno do Brasil Michel Temer durante a reunião no Palácio do Planalto, Brasil, 13 de julho de 2016 - Sputnik Brasil
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A Folha de S. Paulo está sendo acusada pelo jornalista Glenn Greenwald, do Intercept, de cometer “fraude jornalística” e favorecer o presidente interino Michel Temer com a manchete enganadora a respeito da última pesquisa do Datafolha, instituto usado pelo jornal, segundo a qual metade do país defenderia a permanência do peemedebista no Planalto.

Segundo o levantamento divulgado no sábado (16), 50% dos brasileiros teriam dito que seria “melhor para o país” se Temer continuasse na presidência até o fim do mandato de Dilma, contra 32% que prefeririam a volta da petista e apenas 3% que seriam favoráveis a novas eleições, além de 4% que teriam dito não querer nem Temer nem Dilma. 

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Greenwald – o mesmo jornalista que iniciou a divulgação, no The Guardian, das informações sobre os programas de vigilância global dos EUA, reveladas em junho de 2013 a partir dos documentos secretos vazados por Edward Snowden – aponta em sua denúncia no Intercept que a Folha agiu “por desonestidade ou incompetência extrema” ao afirmar que metade da população brasileira deseja a permanência de Temer sem publicar as perguntas que o Datafolha fez aos entrevistados.

​De fato, o jornal distorceu gravemente os fatos, a poucas semanas da votação final do impeachment de Dilma no Senado, porque não informou a seus leitores que as únicas opções disponíveis de resposta aos entrevistados eram: (1) Dilma retornar à Presidência ou (2) Temer continuar como presidente até 2018. Não havia a opção de novas eleições, por exemplo, nem a que recusava tanto Dilma quanto Temer. Tais informações só foram publicadas ontem (19).

“Portanto, fica evidente que os 50% de entrevistados não disseram que seria melhor para o país se Temer continuasse até o fim do mandato de Dilma em 2018: eles disseram apenas que essa seria a melhor opção se a única alternativa fosse o retorno de Dilma. Além disso, simplesmente não procede alegar que apenas 3% dos entrevistados querem novas eleições, já que essa pergunta não foi feita. O que aconteceu foi que 3% dos entrevistados fizeram um esforço extra para responder dessa forma frente a opção binária entre ‘Dilma retorna’ ou ‘Temer fica’”, escreve Greenwald.

A distorção é ampliada pelo fato de as últimas pesquisas sobre o assunto, inclusive a do Datafolha feita em abril, terem perguntado explicitamente aos entrevistados a respeito de novas eleições, bem como pelo fato de o Supremo Tribunal Federal já ter decidido que a votação do impeachment de Temer deve prosseguir. 

“Após ter decidido limitar as opções de resposta dessa forma, a Folha não pode enganar o país fingindo ter oferecido aos entrevistados todas as opções possíveis. Com a omissão desse fato, a manchete e o gráfico principal do artigo da Folha se tornam enganosos e completamente falsos”, diz o jornalista. 

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Diante das evidências, o próprio Datafolha admitiu o aspecto “enganoso” da afirmação de que apenas 3% dos brasileiros defenderiam novas eleições, “já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados”, bem como a “imprecisão” na manchete sobre os 50% que apoiariam a continuidade de Temer na presidência, já que a notícia não foi acompanhada da devida informação sobre as opções de resposta oferecidas na pesquisa.

Em seu artigo, Greenwald destacou ainda o ranking anual de liberdade de imprensa publicado em abril pela organização Repórteres Sem Fronteiras, que rebaixou o Brasil para a 104ª posição, “em parte devido à ‘propriedade dos meios de comunicação continuar concentrada nas mãos de famílias dominantes vinculadas à classe política’”.

“Mais especificamente”, relata o jornalista, “o grupo observou que ‘de forma pouco velada, a mídia nacional dominante encorajou o povo a ajudar a derrubar a Presidente Dilma Rousseff’ e ‘os jornalistas que trabalham nesses grupos midiáticos estão evidentemente sujeitos à influência de interesses privados e partidários, e esses conflitos de interesse permanentes são obviamente prejudiciais à qualidade do jornalismo produzido’”.

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