Segundo o levantamento divulgado no sábado (16), 50% dos brasileiros teriam dito que seria “melhor para o país” se Temer continuasse na presidência até o fim do mandato de Dilma, contra 32% que prefeririam a volta da petista e apenas 3% que seriam favoráveis a novas eleições, além de 4% que teriam dito não querer nem Temer nem Dilma.
Datafolha v. @Folha (h/t @bradleybrooks) pic.twitter.com/DyQRBqtxAV
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) 20 июля 2016 г.
De fato, o jornal distorceu gravemente os fatos, a poucas semanas da votação final do impeachment de Dilma no Senado, porque não informou a seus leitores que as únicas opções disponíveis de resposta aos entrevistados eram: (1) Dilma retornar à Presidência ou (2) Temer continuar como presidente até 2018. Não havia a opção de novas eleições, por exemplo, nem a que recusava tanto Dilma quanto Temer. Tais informações só foram publicadas ontem (19).
“Portanto, fica evidente que os 50% de entrevistados não disseram que seria melhor para o país se Temer continuasse até o fim do mandato de Dilma em 2018: eles disseram apenas que essa seria a melhor opção se a única alternativa fosse o retorno de Dilma. Além disso, simplesmente não procede alegar que apenas 3% dos entrevistados querem novas eleições, já que essa pergunta não foi feita. O que aconteceu foi que 3% dos entrevistados fizeram um esforço extra para responder dessa forma frente a opção binária entre ‘Dilma retorna’ ou ‘Temer fica’”, escreve Greenwald.
A distorção é ampliada pelo fato de as últimas pesquisas sobre o assunto, inclusive a do Datafolha feita em abril, terem perguntado explicitamente aos entrevistados a respeito de novas eleições, bem como pelo fato de o Supremo Tribunal Federal já ter decidido que a votação do impeachment de Temer deve prosseguir.
“Após ter decidido limitar as opções de resposta dessa forma, a Folha não pode enganar o país fingindo ter oferecido aos entrevistados todas as opções possíveis. Com a omissão desse fato, a manchete e o gráfico principal do artigo da Folha se tornam enganosos e completamente falsos”, diz o jornalista.
Em seu artigo, Greenwald destacou ainda o ranking anual de liberdade de imprensa publicado em abril pela organização Repórteres Sem Fronteiras, que rebaixou o Brasil para a 104ª posição, “em parte devido à ‘propriedade dos meios de comunicação continuar concentrada nas mãos de famílias dominantes vinculadas à classe política’”.
“Mais especificamente”, relata o jornalista, “o grupo observou que ‘de forma pouco velada, a mídia nacional dominante encorajou o povo a ajudar a derrubar a Presidente Dilma Rousseff’ e ‘os jornalistas que trabalham nesses grupos midiáticos estão evidentemente sujeitos à influência de interesses privados e partidários, e esses conflitos de interesse permanentes são obviamente prejudiciais à qualidade do jornalismo produzido’”.