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'Governo interino vai ouvir mais (de novo) o FMI'

ENTREVISTA COM ROBSON GONÇALVES 2 DE 21 07 16
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Relatório divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) afirma que o governo brasileiro precisa centrar esforços para implantar medidas de ajuste fiscal, e que, embora o momento da economia brasileira ainda seja difícil, os níveis de confiança de empresários e população começam a dar sinais de crescimento.

O relatório, assinado pelo diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, Alejandro Werner, prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil irá encolher 3,3% este ano e crescer em 2017 cerca de 0,5%. Para a América Latina como um todo, as previsões são de queda média de 1,6¨do PIB para este ano e avanço de 1,6% em 2017. As exceções no continente devem ser as altas esperadas para Peru (3,7%), Colômbia e México (ambos com 2,5%). O recuo na Argentina deve ser de 1,5% e de 10% na Venezuela.

Nas duas últimas décadas, as relações entre Brasil e FMI passaram por uma profunda reviravolta. De tomador de empréstimos entre 1998 e 2002, o Brasil passou a fazer aportes, destinando ajuda financeira ao Fundo. Durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, tendo Pedro Malan como ministro da Fazenda, o país tomou dois empréstimos, o primeiro de US$ 20 bilhões em 1998 e outro de US$ 30 bilhões em 1999. Em junho de 2002, foram tomados mais US$ 30 bilhões. 

No primeiro mandato do governo Lula, em 2003, o Brasil pagou US$ 4,2 bilhões, adiantando a parcela de quitação dos recursos tomados no ano anterior. De lá para cá, nunca mais o Brasil precisou recorrer ao FMI. Pelo contrário, em outubro de 2009, atendendo a um apelo do Fundo aos países, o Brasil emprestou US$ 10 bilhões ao FMI. Àquela época, mesmo em plena crise provocada pela crise dos subprimes nos EUA, as reservas brasileiras chegavam a US$ 220 bilhões. Hoje, estão em torno de US$ 380 bilhões.

Jin Liqun (C), the first president of the Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB), speaks to journalists during a press conference in Beijing on January 17, 2016 - Sputnik Brasil
Banco Asiático desafia FMI

Para o economista Robson Gonçalves, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), tanto os empréstimos feitos pelo FMI no passado quando o aporte realizado no governo Lula são um retrato de dois momentos da nossa economia, uma em que se saía de uma série de crises internacionais (Rússia, México, Ásia e Argentina), que obrigaram o país a assinar o acordo com o FMI em 1998 e sacar recursos nos anos seguintes, e outra, mais positiva a partir do primeiro mandato do então presidente Lula. 

"No governo Lula, a China importava commodities brasileiras em larga escala. Depois da quebra do Lehman Brothers, as taxas de juros internacionais recuaram muito fortemente e o Brasil pôde ter reservas suficientes no Banco Central para aportar recursos ao Fundo. São reflexos de duas conjunturas internacionais distintas. Foi uma inserção difícil à época do governo Fernando Henrique, mas que foi superada, e uma inserção mais favorável por um clima internacional também mais favorável, à época do governo Lula." 

Gonçalves observa que a Argentina sofreu muito mais com políticas populistas durante a era Kirchner e que foram irresponsáveis com o setor exportador e também com os investidores estrangeiros, coisa que não se viu no Brasil em momento algum. 

"A preservação do nosso nível de reservas nos últimos anos em grande medida é resultado de uma política muito mais responsável do ponto de vista das contas externas do que aconteceu com a Argentina e com a Venezuela, por exemplo."

Com a formação de uma equipe econômica mais alinhada com as concepções neoliberais, em contraposição às desenvolvimentistas, adotadas nas gestões de Lula e Dilma, Gonçalves acredita que as análises do FMI sobre o Brasil passarão a ser ouvidas com mais atenção. O economista FGV observa que os estudos feitos pelo Fundo em relação ao Brasil são os mesmos realizados sobre as economias de diversos países, inclusive dos mais desenvolvidos. Segundo ele, especificamente na questão fiscal, houve uma mudança significativa da presidente Dilma e a interinidade do presidente Temer. 

"Vinte anos de equilíbrio fiscal estavam sendo corroídos a cada ano, e agora estamos com o difícil trabalho de reverter esse desequilíbrio."

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