Os ocupantes do terreno de 11 mil metros quadrados no Jardim Raposo Tavares estavam sendo retirados do local em cumprimento a um mandado de reintegração de posse em favor da Prefeitura Municipal.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Eduardo Suplicy, que em 1 de abril se desincompatibilizou do cargo de secretário municipal de Direitos Humanos, contou que decidiu se solidarizar aos ocupantes do terreno por temer uma ação mais violenta por parte da Polícia Militar e atitudes que pudessem colocar em risco a integridade física daquelas pessoas. Naquele momento, ele se deitou no chão e os policiais, então, decidiram carregá-lo até uma viatura e, em seguida, até o 75.º Distrito Policial, onde prestou depoimento e foi liberado.
Até o momento em que concedeu a entrevista à Sputnik, no meio desta tarde, Eduardo Suplicy declarou ainda não ter sido procurado pelo governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, nem pelo secretário Estadual de Segurança, Mágino Alves. Mas deixou claro que, se vier a ser contatado, não se furtará ao diálogo com as autoridades estaduais.
A seguir, a entrevista com Eduardo Suplicy.
Sputnik: O que aconteceu efetivamente com o senhor e com a Polícia Militar do Estado de São Paulo durante a reintegração de posse na Rodovia Raposo Tavares? Houve truculência por parte da Polícia Militar?
Eduardo Suplicy: Ao chegar ao local, ouvi o som das bombas de gás lacrimogêneo e fiquei bastante preocupado. Procurei a oficial de Justiça e o capitão responsável por aquela operação e fui informado de que havia uma ordem de reintegração de posse porque aquela era considerada uma área de alto risco e precisava haver o deslocamento daquelas moradias. Chegou ao local o secretário municipal de Assuntos Jurídicos, Barreirinhas, que explicou que, se não fosse levada adiante a reintegração de posse, o juiz poderia acionar a Prefeitura por crime de improbidade administrativa. Os moradores informaram que, do ponto de vista do auxílio-aluguel, eram relativamente poucas as famílias que atendiam as exigências de quem pode receber o auxílio-aluguel, e muitas estavam preocupadas porque não tinham uma alternativa adequada. Por causa disso o clima era bastante tenso. Definido pela oficial de Justiça e pelo capitão comandante da operação que deveria prosseguir a reintegração, houve um momento em que, com uma retroescavadeira andando logo atrás, uma fileira de 10 ou 12 policiais militares com escudos foi subindo a rua em que havia cerca de 80 moradores, mulheres e homens, que se postaram diante dos policiais.
S: Foi nesse momento que o senhor se deitou no chão e que a Polícia disse que o senhor provocava tumulto?
ES: Justamente aí, na hora em que eu vi aqueles moradores se postarem como que empurrando os escudos dos policiais militares, eu percebi que poderia surgir um conflito mais sério, eventualmente com pessoas feridas, e até consultei o secretário coordenador da Subprefeitura, Luiz Antônio Medeiros, e falei: "Eu acho que vou me deitar aqui no chão e ver se paro esse conflito que está por acontecer." Aí deitei no chão e ele me deu força para que eu realizasse esse gesto. Diversas mulheres se deitaram a meu lado, e a oficial de Justiça e o capitão conversaram comigo dizendo que era necessário prosseguir a reintegração de posse e pedindo que eu me retirasse de lá. Eu disse que gostaria de conversar com o juiz e pedi que me colocassem em contato com ele, mas ela (a oficial) me disse que não poderia fazer isso. Eu disse que iria permanecer ali, mas que não iria criar resistência alguma e que se quisessem poderiam me levar, mas que estava ali para evitar que houvesse uma reação de violência com relação às pessoas que estavam lá.
S: No momento em que os policiais militares o carregaram, o senhor sentiu algum incômodo físico, se sentiu agredido?
ES: Houve um momento em que o Luiz Antônio Medeiros tentou me segurar e os policiais puxaram meu braço com bastante força. Alguns seguraram minha roupa e eu pedi que não a rasgassem e que se não tivessem cuidado iriam quebrar o meu braço. Andaram mais de 200 metros me carregando e me levaram até a viatura policial, me colocaram no banco, e três policiais militares foram junto, acompanhando e conversando comigo de forma respeitosa.
S: O senhor é pré-candidato à Câmara Municipal de São Paulo em 2016?
ES: Sim.
S: Como o senhor viu as críticas que surgiram após o incidente, de que o fato de o senhor ter se lançado ao chão poderia ser um evento de pré-campanha eleitoral?
ES: Foram muitas as vezes ao longo de minha vida política em que eu fui chamado para averiguar se estavam infringindo os direitos da população. Não é algo em que eu precise estar como secretário de Direitos Humanos, senador, deputado federal, vereador, deputado estadual – tudo que eu já fui –, mas como ser humano, vendo que poderia acontecer um episódio de violência no qual as pessoas poderiam ser feridas. Eu avaliei que era apropriado tomar alguma atitude, que fosse a mais pacífica possível, e por isso me deitei ao chão.