Os e-mails, vazados pelo WikiLeaks na última sexta (22), mostram que, durante seu mandato como secretária de Estado norte-americana, Clinton perguntou ao então secretário-assistente de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, como "conter [o agora falecido líder venezuelano Hugo] Chávez". Valenzuela aludiu à necessidade de abordar outros parceiros regionais para ajudar a minar Chávez:
"Precisamos considerar cuidadosamente as consequências de confrontá-lo publicamente, mas devemos procurar oportunidades de outros países na região para ajudar".
RELEASE: 19,252 emails from the US Democratic National Committee https://t.co/kpFxYDoNyX #Hillary2016 #FeelTheBern pic.twitter.com/nklNO5WSQL
— WikiLeaks (@wikileaks) 23 июля 2016 г.
Nas palavras do Dr. Francisco Dominguez, da Campanha de Solidariedade da Venezuela:
"Após a eleição de Chávez na Venezuela e a eleição do Partido dos Trabalhadores no Brasil em 2002, a região, especialmente a Venezuela, começou a se distanciar dos Estados Unidos, estabelecendo seus próprios organismos, em grande parte regionalmente integrados, e por isso os Estados Unidos estão perdendo influência. A Venezuela tem sido o principal proponente disto, razão pela qual os Estados Unidos tem atacado tanto o país", disse o analista à Sputnik.
Enquanto Clinton expressa amizade para com a Venezuela em público, os e-mails vazados sugerem uma intenção diferente, o que para o Dr. Dominguez levanta uma série de questões:
"Porque os EUA têm de levar em conta os sentimentos regionais das pessoas, eles fingem que gostam de boas relações ou as favorecem, mas eles nunca vão parar de desestabilizar a América Latina, ou a Venezuela".
https://t.co/GG4fsKyL6Q Killary emails: She formed a network of cut-outs like Spain, Honduras, Salvador to subvert Chavez regime deniably
— agitpapa (@agitpapa) 27 июля 2016 г.
A candidata democrata também expressou preocupação com a decisão das Nações Unidas de condenar o golpe militar em Honduras em 2009, que Clinton apoiou. Em 2009, o democraticamente eleito presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi deposto por militares apoiados por partidos da oposição. Apesar do fato de os aliados tradicionais dos EUA – como a União Europeia – terem condenado o golpe, Clinton confessou que, na época, ela queria ver um novo governo substituir a administração esquerdista de Zelaya, a fim de "restaurar a ordem".
Um dos e-mails vazados também recomenda não gastar os fundos da USAID em Estados governados pela esquerda, como Venezuela, Cuba e Nicarágua, porque tais fundos poderiam "prejudicar o desenvolvimento democrático real".
Ainda aludindo à Venezuela, o documento também diz que "todos os fundos canalizados para Estados não confiáveis devem ser acompanhados de ‘mudanças de comportamento humano’".
DNC has been digging for evidence of USAID corruption on Trump while Clinton & State Dept have been withholding hers pic.twitter.com/OMtRyPmePM
— Keith Warren (@screenslaver) 30 июня 2016 г.
O Conselho de Radiodifusão de Governadores (BBG), organização estatal norte-americana por trás da Voz da América e de várias estações de rádio internacionais pró-americanas, também pediu mais fundos a Clinton a fim de "combater os esforços de diplomacia pública dos inimigos da América", segundo revela um dos e-mails vazados. O presidente do conselho, Walter Isaacson, identifica explicitamente estes Estados como "Irã, Venezuela, Rússia e China".
Posteriormente, o orçamento anual da BBG foi aumentado para cerca de US$ 750 milhões, permitindo um considerável aumento de suas atividades nos países acima referidos. Clinton respondeu à situação em um e-mail em que dizia: "Vai começar a diversão".
O Dr. Dominguez acredita que o objetivo final dos Estados Unidos é ver a derrubada do governo venezuelano, atualmente liderado por Nicolas Maduro, que ainda goza de apoio popular.
"O governo norte-americano atingiu o setor privado, em especial, o de distribuição de alimentos, contendo alimentos, o que obriga as pessoas a formarem filas. Forçando-as a isso, as pessoas se tornam descontentes (…), especialmente os pobres. A ideia, eu acho, é minar a base de apoio de que os governos Chávez-Maduro gozam, e se eles forem capazes de enfraquecê-los, eles pensam que vão criar as condições para derrubar o governo, que é o que eles fizeram no Chile em 1973", disse o Dr. Dominguez à Sputnik.
Desde o início dos anos 1970, o governo dos Estados Unidos tem buscado várias políticas subversivas na América Latina, destinadas a minar os governos democraticamente eleitos, e, geralmente, de esquerda, da região.
Tais políticas continuam até hoje, e se Hilary Clinton tornar-se presidente, não parece que elas sofrerão qualquer mudança significativa no futuro previsível.