Dirigentes como o presidente russo Vladimir Putin e o boliviano Evo Morales fizeram questão de destacar o legado histórico do líder da revolução cubana, hoje praticamente recluso devido às sequelas de uma doença intestinal. Sua última aparição em público foi em 19 de abril, no encerramento do Congresso do Partido Comunista Cubano. Lá, mesmo com a voz trêmula, incitou os cubanos a manterem a senda socialista.
“Na Rússia, você goza de um grande respeito como homem de Estado pelo destaue que dedicou toda a sua vida a serviço do povo de Cuba”, escreveu Putin em um telegrama enviado neste sábado, no qual chamou Fidel de querido amigo.
Na sexta-feira, Fidel divulgou um texto sobre seu aniversário, agradecendo a todas as manifestações de carinho e solidariedade provenientes de todos os cantos do mundo, e lembrou passagens de sua infância, da revolução cubana e voltou a alertar sobre os riscos nucleares, os desafios da superpopulação mundial e o papel ainda hoje exercido pelos Estados Unidos.
Líder de personalidade marcante, ao longo de sua vida, Fidel deixou de legado pensamentos e frases que atravessam décadas e que obrigam a reflexões. Em 1953, quando do assalto ao quartel de Moncada, episódio considerado o início da revolução cubana, Fidel disse:
“Quando os homens levam em mente um mesmo ideal, nada pode isolá-los, nem as paredes de uma prisão, nem a terra dos cemitérios, porque uma mesma lembrança, uma mesma alma ou ideia, uma mesma consciência e dignidade alimentam a todos.”
Três décadas mais tarde, em 1985, durante um encontro para debate sobre as dívidas externas de países da América Latina e do Caribe, outra frase histórica:
“As ideias não necessitam de armas na medida em que sejam capazes de conquistar as grandes massas.”
Em entrevista à Sputnik Brasil, João Cláudio Pitillo, pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), disse que Fidel foi e ainda é o farol dos explorados políticos e que permitiu o Terceiro Mundo sonhar e que era possível, apesar de todas as pressões, enfrentar os Estados Unidos de igual para igual.
“Ele transformou uma ilha que era um prostíbulo em uma nação que figura entre as grandes, apesar do bloqueio criminoso de décadas. Ele fez em Cuba em 50 anos o que a América Latina não conseguiu fazem em 500, participou de todos os momentos importantes da metade do século 20, viu a União Soviética desmoronar, mas em nenhum momento abriu mão de seus princípios e ideário, enquanto os países do Leste Europeu caducavam.”
Para Pitillo, um dos grandes méritos de Fidel foi sua sagacidade política, que o permitiu sair dos antros e das armadilhas que os EUA lhe impuseram. Segundo o pesquisador, seu papel foi decisivo na descolonização da África e na luta contra o apartheid. Uma prova dessa contribuição, segundo ele, foi o fato de que a primeira visita feita pelo líder Nélson Mandela, após sair da prisão, foi a Havana.
O especialista em Américas lembra que, mesmo fora de cena, Fidel tem sido um conselheiro importante de seu irmão Raul Castro, e ajudado a arquitetar a presença crescente de Cuba nas relações internacionais.
“A última tacada de Fidel foi a costura dos diálogos de paz que ele proporcionou entre o governo da Colômbia e os rebeldes das Farcs. Cuba tem sido uma importante fiadora desse processo e colocado Cuba de novo no centro do mundo.”