O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) acredita que após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) é hora de as esquerdas brasileiras priorizarem os pontos que têm em comum na oposição ao governo de Michel Temer (PMDB) em detrimento de suas diferenças, mas alega que o PT não tem "condições morais" de liderar esse movimento. Ao mesmo tempo crítico e defensor do governo petista, a partir de pontos de vista diferentes, o deputado não vê contradição nisso.
Em entrevista à Sputnik em Lisboa, um dos destinos de uma viagem de uma semana pela Europa para "denunciar o que está acontecendo no Brasil", Wyllys não deixa de apontar os erros de Dilma, mas defende enfaticamente que a destituição foi um golpe das elites brasileiras.
Questionado sobre o que será da esquerda nesse momento, o deputado alega que não pode dizer "de maneira tão clara quais são as perspectivas porque as esquerdas no Brasil são plurais". "De maneira geral, diria que a perspectiva é enfrentar o governo Temer, não reconhecer, não dar legitimidade e fazer uma oposição ferrenha", defende. Ao mesmo tempo em que prega a união das esquerdas, o deputado acredita que o PT não tem condições de liderar esse movimento e "tem que ceder agora às novas forças políticas em torno das quais se pode construir um consenso".
"Creio que nesse momento o PT não tem as condições para ser protagonista. Acho que muito mais o MTST, que é o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o movimento LGBT, o próprio PSOL, tem mais condições de produzir esse consenso do que o PT. O PT nesse momento deveria estar fazendo uma autocrítica, lambendo suas feridas e identificando quais foram os seus erros nessa coligação com a direita brasileira nos seus últimos governos", diz.
Jean cobrou "autocrítica" por parte do Partido dos Trabalhadores (PT) em vários momentos da entrevista e justificou que o partido "deve isso às esquerdas, deve isso a ele mesmo, à história do partido". Ele afirma que o momento pede que as forças progressistas do Brasil deem "prioridade às suas convergências e não às suas divergências".
"Foi o PT que cedeu às pressões das forças conservadoras, reacionárias e de direita que compunham os seus governos. As esquerdas, fora o PT, têm todo o direito de se colocarem em uma posição crítica porque se chegamos aonde chegamos, foi justamente porque o PT acreditou numa conciliação entre classes que todos nós da esquerda achávamos que não era possível", argumenta.
Provocado se seria o momento de os partidos de esquerda abandonarem velhos ranços e se unirem na oposição ao governo de Temer, Jean demonstra irritação e alega que "se tem uma responsabilidade na desunião das esquerdas é do PT, que ao invés de fazer um governo inclinado à esquerda, fez um governo inclinado à direta".
"O PMDB é um partido de corruptos, todos sabíamos disso, entretanto o PT fez coligação com o PMDB em todos os seus governos. Se há um erro aí, foi do PT, que foi, no mínimo, ingênuo em relação ao PMDB. Culpar o PSOL, achar que o PSOL tem responsabilidade na queda da Dilma é uma piada porque o PSOL fez uma oposição coerente, responsável com seu programa, com sua história, com as políticas que propõe para o país. Isso não é ajudar a derrubar o governo, isso é fazer uma oposição responsável", afirma.
Na segunda-feira (5), leia no site da Sputnik Brasil a entrevista completa do deputado federal do PSOL Jean Wyllys.