A violência empregada por policiais contra manifestantes, que chegaram a 100 mil, na contagem dos organizadores, foram replicadas por órgãos como a Deutsche Welle (Alemanha), BBC Brasil — o correspondente que filmava o lançamento de bombas de gás por parte da PM — sofreu golpes de cassetete nos braços e nas mãos, peito e perna direita, Miami Herald (EUA), La Jornada (México), The Huffington Post (EUA), Associated Press, entre outros.
O comandante do Policiamento da Capital, coronel Dimitrios Fyskatoris, nega ter havido exagero nas ações da PM, garantindo que a polícia “tem expertise, preparo, treinamento e equipamento suficientes e vem dando conta de acompanhar as manifestações”. Outra manifestação da polícia paulista foi a do coronel da PM Henrique Motta que em sua página no Facebook, utilizando uma imagem de Deborah Fabri, que teve o olho esquerdo perfurado por uma bomba da PM durante o protesto na Paulista, postou o seguinte pensamento: “Quem planta rabanete, colhe rabanete”.
Rafael Moura, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) e doutorando em Ciências Políticas, foi uma das milhares de pessoas que estavam no protesto do último domingo. Com exclusividade, ele conta à Sputnik Brasil o espírito da manifestação e a violência dos policiais.
"Pude ver uma composição bastante heterogênea, muitos jovens, mas não apenas jovens, diversas gerações de militantes, de cidadãos, pessoas ligadas a movimentos sociais e estudantes reivindicando uma série de coisas. O tema comum, evidentemente, o repúdio ao Michel Temer, que ascendeu à presidência mediante esse contestado e tosco processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff."
Segundo Moura, embora essa fosse a questão comum, unificando todos os manifestantes, havia muitos cartazes com uma série de reivindicações, os principais contra a agenda conservadora que avança no país, “no sentido de tolher os direitos do público LGBT, das mulheres, os direitos de manifestação dos movimentos sociais e pelo lado econômico uma agenda também conservadora de retirada e precarização de direitos trabalhistas, de privatizações. Por essa agenda estar corporificada na figura do Michel Temer e de seu governo, o ‘Fora Temer’ acabou sendo o eco geral. Foi um protesto bastante plural.”
Em relação à inciativa do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) de denunciar a violência da PM à Organização dos Estados Americanos (OEA), Moura diz que a iniciativa é importante porque tem o valor de chamar a atenção de autoridades e entidades estrangeiras para o que está acontecendo no Brasil, mas confessa que se mantém cético quanto à real capacidade de transformar esse ato para a atuação da PM.
"A atuação da PM é algo que está arraigado no próprio funcionamento da instituição, de arbitrariedade, violando os direitos e as garantias básicas dos cidadãos. Felizmente hoje com o poder da internet podemos registrar essas arbitrariedades, mas ainda assim é algo muito difícil de ser combatido em função da própria leniência do governo do Estado de São Paulo, que não é conhecido por suas qualidades enquanto um governante democrático. Infelizmente acho que essas atitudes vão continuar existindo como tentativas de coibição de qualquer manifestação ou sublevação contra o status quo."
Na avaliação de Moura, essa tendência é reflexo de um fenômeno mais amplo que está acontecendo no país, fruto do avanço de forças conservadoras tanto no Congresso e em boa parte da sociedade civil, que acaba corroborando esse tipo de atitude, criminalização de movimentos sociais, enquadramento de qualquer movimento anti status quo.
"Fico muito triste, porque isso é algo que vai contra qualquer espírito democrático. A democracia se faz pelo debate de ideias, pela pluralidade. A partir do momento quando você tem protestos contra a presidenta Dilma, que foram saudados com catraca livre por parte do governador, com o carinho da PM e selfies com caveirão, e de outro lado você tem jovens idealistas protestando por suas causas sendo enquadrados como criminosos, isso é muito triste, mostra a utilização de dois pesos e duas medidas por parte do Estado, algo que não deveria acontecer. Isso só pode ser enfrentado de uma maneira: nas ruas mesmo."