"A revelação desses documentos mostra o fato de que a estratégia e a política de inteligência militar não mudou com a transição da ditadura para a democracia [no Uruguai] em 1985. A inteligência militar continuou trabalhando como trabalhou anteriormente", disse Samuel Blixen, um jornalista que está fazendo investigação no jornal Brecha, à Sputnik Mundo em entrevista ao programa GPS Internacional.
O leque de espionagem era vasto. "É difícil definir quaisquer restrições ideológicas. Ela tocou todos os partidos. O Partido Comunista, o Movimento de Participação Pública e os sindicatos foram objeto de investigação, como, por exemplo, no tempo das manifestações contra a privatização de empresas estatais. Também foi realizada espionagem em relação a líderes de partidos de direita", explicou o jornalista.
Como salientou Blixen, após a restauração da democracia no país, nem a política, nem a estratégia da inteligência militar mudaram e se mantiveram constantes até 2009.
"Desde 1985, nenhum dos governos que estiveram no poder teve vontade política suficiente para reorganizar as forças armadas e limpá-las dos elementos que permaneceram desde os tempos da ditadura", esclarece Blixen.
O general Elmar Castiglioni "chefiou a inteligência militar desde os tempos da ditadura até ao triunfo da democracia. Há suspeita de que ele usou os documentos com o fim de chantagear e pressionar os políticos", contou o jornalista da edição Brecha.
"Dado o fato de que toda esta atividade ilegal estava sendo realizada na época dos governos de esquerda, é possível supor que os partidos de direita desejem contribuir para a investigação. Mas não acho que eles estejam interessados nisso. Não acho que o governo esteja pronto para se meter nisso. O governo quer saber a verdade, mas não quer criar dificuldades para os militares", disse Blixen.