A essa conclusão chegou Fernando Casado, advogado, comunicador social e analista espanhol em seu livro "Antijornalistas. Confissões das agressões midiáticas contra a Venezuela" ('Antiperiodistas. Confesiones de las agresiones mediáticas contra Venezuela), onde o pesquisador se deu à tarefa de analisar a guerra mediática contra a Revolução Bolivariana.
O livro é resultado do contraste que sentiu Casado entre a Venezuela real e aquela que lhe vendia a mídia. O jornalista se propôs descobrir "como se constrói essa diferença entre o que eu via e o que a opinião pública internacional acreditava sobre a Venezuela".
Em primeiro lugar, o analista explica que uma confrontação ideológica entre os meios de comunicação e o socialismo do século XXI (e, em termos mais gerais, contra qualquer alternativa ao status quo ou ao 'establishment') é lógica e inevitável, dado que "os grandes meios de comunicação não são mais do que empresas cuja motivação principal é a obtenção de benefícios".
A única diferença com uma empresa qualquer, é que os meios de comunicação vendem um bem intangível: a informação. Vítima de ataques dessas "empresas de comunicação" tem sido também toda a "iniciativa que possa ser uma ameaça para os interesses que têm esses meios, tanto de caráter ideológico, como comercial e empresarial". Mas, além disso, os interesses daqueles que pagam a publicidade também são transmitidos aos meios de comunicação que vivem com a venda dessa publicidade, explicou Casado em entrevista ao programa Vozes do Mundo (Voces del Mundo) da Rádio Sputnik.
No entanto, o pesquisador afirma que "a demonização da situação na Venezuela não é um fim em si mesmo", o estereótipo do termo 'chavista' serve para que a mídia desprestigie qualquer tipo de fenômeno: uma lei, uma política pública, um Governo, sem a necessidade de aprofundar as explicações, mas, simplesmente, qualificando-o como terrível.
Isto é o que acontece na Colômbia, onde o presidente Juan Manuel Santos é apelidado pela oposição de castrochavista, no Chile, onde o jornal El Mercurio qualificou a presidenta chilena, Michelle Bachelet, de chavista e na Argentina, onde o Clarín e La Nación procuraram acabar com o governo falando dos laços que uniam Néstor Kirchner e Cristina Fernández de Kirchner a Hugo Chávez, explica o jornalista.
Além de destacar o controle da mídia sobre a informação, o analista também sublinha a situação em que vivem os jornalistas, especialmente "a precariedade laboral da profissão jornalística".
Por um lado, existem jornalistas que estão de acordo com a ideologia da mídia para a qual escrevem, por outro lado, existem outros jornalistas que estão conscientes da situação na Venezuela e que celebram algumas das conquistas sociais no país, "mas que não têm outra solução, para poder chegar ao fim do mês e ter um salário digno, que escrever o que os editores lhes solicitam, o que normalmente costuma ter um maior componente de sensacionalismo e amarelismo jornalístico para diferenciar o trabalho das agências de notícias".
No caso dos correspondentes, jornalistas com visões muito mais independentes, seus trabalhos não podem ser tomados em consideração pela mídia, se são muito positivos em relação à Venezuela, explica Fernando Casado, e por isso eles próprios se autocensuram para que seus textos sejam publicados.
Todos estes fatores são usados pelos meios de comunicação para construir "uma realidade manipulada e estereotipada que hoje em dia é um dogma de fé. (…) Hoje em dia, tentar convencer a opinião pública internacional, devido a esse bombardeio que tiveram e a essa deformação da informação, de que a Venezuela não é o demônio, é muito complicado, porque essa informação foi realmente consolidada ao longo dos anos", conclui Casado.