A jornada começou logo pela manhã na Argentina, onde Temer e comitiva foram recepcionados pelo presidente Mauricio Macri e vários ministros que assinaram vários protocolos de intenção em diversos setores. Na área econômica, os dois países querem simplificar os procedimentos de comércio exterior para micro e pequenas empresas, a fim de aumentar o comércio bilateral. De janeiro a setembro deste ano, as exportações brasileiras para a Argentina cresceram 0,3% em relação a igual período do ano passo, chegando a US$ 9,9 bilhões. O país já é o terceiro destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Em contrapartida, o Brasil importou menos 18,6% da argentina entre janeiro e agosto, totalizando US$ 6,6 bilhões.
Ainda na área econômica, foi assinado intercâmbio prevendo incentivos à exposição de produtos de pequenas e médias empresas de ambos os países e maior intercâmbio de experiências e conhecimentos técnicos. No âmbito da cultura, foram assinados diversos memorando visando a workshops, divulgação e residência artística em artes plásticas, design, música, literatura e cinema.
Temer e Macri defenderam ainda flexibilização das regras do Mercosul, com os dois países trabalhando para fortalecer o bloco como instituição sul-americana. Um dos principais objetivos do bloco agora é formalizar o acordo com a União Europeia (UE). Com relação à Venezuela, os dois dirigentes lembraram que o país tem até 2 de dezembro para cumprir as exigências do bloco sob pena de suspensão e outras sanções.
À noite, Temer foi recebido pelo presidente paraguaio Horácio Cartes, um dos primeiros dirigentes mundiais a cumprimentar o novo presidente brasileiro após o afastamento de Dilma. Em Assunção, a comitiva brasileira discutiu as diversas pendências sobre a administração compartilhada da hidrelétrica de Itaipu e planos para licitação de duas grandes pontes internacionais, uma sobre o rio Paraná, perto da tríplice fronteira com a Argentina, e outra sobre o rio Paraguai, que poderá servi de via interoceânica entre o Atlântico e o Pacífico. Ainda à noite Temer retornou ao Brasil.
O professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Creomar de Souza diz que, apesar da curta duração, a visita de Temer aos dois parceiros do Mercosul foi estratégica.
"Agora que a situação se normalizou em termos de impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff e da assunção do presidente Temer, nada mais natural que haja uma reaproximação e esse diálogo com a presidência da Argentina e do Paraguai. Essa é a estratégia desse governo no que diz respeito ao Mercosul e especificamente a um alinhamento entre Brasil, Argentina e Paraguai que tende a se tornar mais efetivo e concreto."
Souza diz que os encontros foram uma espécie de recado para outros países, especificamente à Venezuela, no sentido de dizer que determinados abusos, no que diz respeito ao descumprimento das cláusulas democráticas, não vão mais ser aceitos pelos integrantes do bloco.
"O governo do presidente Nicolás Maduro se baseou muito na sua relação de proximidade com os Kirchner na Argentina e depois com os governos petistas no Brasil para construir uma relação com o bloco que desse a ele um salvo conduto no trato com sua oposição política. Essa viagem de Temer mostra que esse período de silêncio do bloco acabou."
Outro país andino, também integrante da corrente bolivariana, a Bolívia aguarda sua entrada como sócio do bloco. Alguns analistas alegam que, com esse endurecimento em relação à Venezuela, essa adesão pode estar comprometida. O professor da UnB discorda.
Segundo o professor, do ponto de vista dos marcadores macroeconômicos, a Bolívia tem feito um ótimo trabalho, mantido a inflação e gasto público sob controle, além de não ter desrespeitado nenhum tipo de regra de boa governança financeira ao contrário de outros países como Brasil e Argentina. Há também o fato de que Morales não vai poder concorrer a presidência de novo, porque ele perdeu na consulta popular onde se propunha uma extensão de mandato. O importante, na avaliação de Souza, é saber se os sócios concordarão com uma ampliação do bloco no momento em que o Mercosul passa por um momento de considerações acerca de sua validade.
Já com relação à possibilidade de acordo entre Mercosul e União Europeia, Souza se mostra reticente.
"Há mais de uma década se negocia esse acordo, e isso quer dizer que uma das partes ou ambas não querem o acordo. Tanto Brasil quanto Argentina dependem muito de seus setores agrícolas. Qualquer acordo que prejudique esses setores em ambos os países vai significar o fim das ambições políticas de quem assiná-lo e a construção de dificuldades enormes em termos de futuro para gerar um acordo que possa ter mais passivos que ativos em termos de relação comercial."